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Maior empresa de carne do mundo associada à desflorestação na Amazónia

Investigação internacional revela que uma fazenda no Mato Grosso, multada por desflorestação ilegal, usou os serviços de transporte da JBS para transferir gado para outra propriedade com ‘ficha-limpa’, que depois abastecia os frigoríficos da empresa. A prática é conhecida como ‘triangulação do gado’.
Desflorestação da Amazónia. Foto de Ibama.

André Campos e Piero Locatelli, da Repórter Brasil, Andrew Wasley e Alexandra Heal, do The Bureau of Investigative Journalism e Dom Phillips, do The Guardian, assinam o trabalho de investigação publicado esta segunda-feira, que revela que “os bovinos criados na fazenda com a área embargada, onde a pecuária não é permitida, tiveram como destino outra propriedade do mesmo dono, que, por sua vez, vendeu o gado a dois matadouros da JBS”.

Os jornalistas lembram que a “maior produtora de proteína animal do mundo assumiu há mais de dez anos o compromisso de erradicar a desflorestação em toda a sua cadeia de fornecimento na Amazónia”. Ainda que a empresa alegue “não ter acesso a informações adequadas para  rastrear  as propriedades que transferem gado para os seus fornecedores diretos”, a verdade é que, em alguns casos, são os próprios camiões da JBS a realizar o transporte dos animais entre estas fazendas”, denunciam.

Questionada sobre esta situação, a JBS esclareceu que “o serviço de logística e transporte fornecido e executado, de forma independente, deve atender às mesmas políticas de sustentabilidade da empresa, incluindo o bloqueio das fazendas que não estejam em conformidade com essas políticas”.

Richard Pearshouse, diretor de Crises e Meio Ambiente da Amnistia Internacional, considera que “a JBS não pode continuar a esconder-se atrás da desculpa de que as informações dos seus fornecedores indiretos não estão disponíveis ou são muito complexas”.

“Essa nova investigação mostra que a JBS conhece alguns dos seus fornecedores indiretos - os seus próprios camiões estão a visitar essas fazendas para transportar gado. A JBS está ciente desses problemas desde pelo menos 2009, mas ainda não possui um sistema eficaz para impedir que o gado de pasto ilegal entre na sua cadeia produtiva”, afirmou Richard Pearshouse.

A fazenda que recorreu aos serviços da JBS para transferir o gado, propriedade de membros da família Rodrigues da Cunha, apresenta-se como dona “de um dos maiores rebanhos comerciais do Brasil, com 102 mil cabeças distribuídas em onze fazendas próprias e sete arrendadas no Mato Grosso”. A par de se dedicar à venda de gado diretamente para os frigoríficos, a família também lucra com a alteração genética dos animais e a sua venda em leilões. Conforme se lê na investigação, o último grande leilão realizado pela família, em 2019, que angariou perto de 2 milhões de euros, contou com o patrocínio da própria JBS.

A JBS tem vindo a ser notícia ao longo dos anos pelas piores razões. A empresa conta já com um historial de infrações sistemáticas das leis laborais, chegando a ser condenada por alimentar os seus trabalhadores com carne contaminada com larvas. Foi igualmente condenada por danos ambientais coletivos. A JBS é ainda acusada, por organizações não governamentais de ambiente como a Mercy For Animals, de infligir um terrível sofrimento aos animais. A empresa viu-se ainda associada a esquemas de fraude na produção e comercialização de carne, bem como em subsídios concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) e ao uso indevido de informações privilegiadas na compra e venda de dólares. Em 2017, no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato, a JBS confessou a prática de crimes, admitindo que procurava obter “boa vontade” pagando a políticos e partidos. Recentemente, a empresa anunciou pretender transferir a sua sede para o Luxemburgo ou Holanda. Com a crise pandémica, a JBS voltou a ser notícia, tendo-lhe sido apontadas várias irregularidades nos protocolos de prevenção da covid-19, nomeadamente no que respeita ao adequado distanciamento entre os trabalhadores e à realização de testes.

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