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“A maior crise da Europa é a crise humanitária”

Durante a sua intervenção na sessão internacional da iniciativa “Celebração do 8 de março – Feminismo contra a guerra”, Catarina Martins destacou que “o dia da mulher é um dia de luta”, e lembrou que “a Europa prometida sem fronteiras do espaço Schengen é também a Europa do Frontex e dos muros pesados”.
Foto de Paulo Novais, Lusa.

A porta-voz do Bloco falou de “lutas presentes que estão no centro do nosso mundo”, de como as “questões de género estão presentes nas guerras de que fogem os migrantes, como estão presente nos trajetos que fazem estes migrantes e estão presentes quando chegam à Europa”.

“A violência de género presente em todos estes momentos é um aviso dos tantos perigos que ainda enfrentamos e do tanto caminho que pensamos que já percorremos mas que, se calhar, ainda não fizemos”, frisou.

A dirigente bloquista afirmou que “a Europa prometida sem fronteiras do espaço Schengen é também a Europa do Frontex e dos muros pesados” dentro e à volta da Europa.

“Quando as crises chegaram em catadupa, por culpa também das ações da União Europeia (UE), desde logo em bombardeamentos seja do Iraque seja da Líbia, sabemos que os muros se ergueram e que os muros estiveram sempre lá. É preciso destruir estes muros”, defendeu.

Catarina Martins assinalou as propostas dos ministros alemão e italiano, que pedem o reforço das fronteiras exteriores da UE e tentam condicionar ainda mais a vinda de refugiados para a Europa, lembrando que foi o “fechamento das fronteiras terrestres que levou os refugiados a arriscarem a vida nas travessias marítimas”.

Sobre a cimeira Turquia-UE, a porta voz do Bloco lamentou que a mesma só sirva para “deteriorar ainda mais” as condições dos refugiados.

Catarina Martins defendeu que “Portugal precisa de ter uma posição muito clara” e que a UE precisa de abrir as fronteiras terrestres para que o mar não seja a única alternativa”.

A deputada adiantou que as prioridades devem ser “assegurar a passagem segura, respeitar os direitos humanos, e promover o reagrupamento familiar” e que “não se pode aceitar que quem foge da guerra seja culpada por ela” e que “quem foge do terror seja considerado terrorista”.

“Europa tem de acabar com financiamento dos grupos que fazem a guerra”

A eurodeputada Marisa Matias defendeu que “a Europa tem a obrigação de acabar de uma vez por todas com o financiamento dos grupos que fazem a guerra”.

No que respeita à Síria, a dirigente bloquista lamenta que os países ocidentais tenham resolvido “colocar-se do lado de todas as partes, menos daquela que interessava: o povo sírio”.

“Temos de deixar de vender armamento e acabar com o negócio do armamento. O que a França e a Inglaterra ganharam no reforço do negócio do armamento nos últimos anos está diretamente relacionado e é diretamente proporcional à tragédia que está a ser provocada nestes países e ao número de pessoas que estão a ser forçadas a sair”, avançou.

“Temos de acabar com o negócio de comprar crude no mercado paralelo dos poços de petróleo que estão ocupados e parar com a hipocrisia de dizer que disparando para os poços de petróleo se resolve o problema”, acrescentou.

Ideologia que ataca direitos de mulheres ocidentais é a mesma que causa crise de refugiados

Durante a sessão, a deputada bloquista Sandra Cunha fez referência “às muitas batalhas que se travaram e às muitas vitórias que se alcançaram” em Portugal no que respeita às questões de género.

A dirigente do Bloco destacou, contudo, que ainda há muito por fazer e que “em períodos de crise e de ataque neoliberal e conservador todas estas violências e desigualdades se agudizam”. “Os direitos antes alcançados estão sob ataque constante de quem quer o regresso ao passado e quer manter o poder”, acrescentou.

Segundo Sandra Cunha, “a ideologia que ataca constantemente os direitos alcançados pelas mulheres nas sociedades ocidentais é a mesma que financia a guerra saqueando vidas, forçando centenas de milhares de pessoas a fugir da destruição e da miséria e votando-as a tormentas inimagináveis e a um sofrimento inqualificável”.

“É a mesma ideologia que causa a crise de refugiados com que nos defrontamos agora”, avançou.

“Por uma Síria mais democrática que respeite a dignidade do seu povo”

A ativista síria Shaza Alsalmoni sublinhou que o povo sírio quer que a comunidade europeia, as instituições europeias e os poderes políticos contribuam para uma “transição pacífica” e para “capacitar o povo sírio e as organizações por forma a que possam reconstruir a sociedade e garantir um melhor futuro para o povo sírio”.

Shaza Alsalmoni assinalou ainda a necessidade de criar uma “constituição democrática que inclua as questões de género e da igualdade de género” e de “ter ativistas feministas nos processos de tomada de decisão”, para que se construa uma “Síria mais democrática que respeite melhor a dignidade do seu povo”.

Durante a manhã, a iniciativa “Celebração do 8 de março – Feminismo contra a guerra” contou com uma conferência sobre as condições das mulheres refugiadas e migrantes, na qual participaram Elsa Sertório, Shaza Alsalmoni, Sofia Roque e Sara Carinhas. Joana Grilo moderou a sessão. A iniciativa incluiu ainda uma exposição de Rita Guimarães e um momento de dança com Orchidaceae Urban Tribal.

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