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Madrid está mais próxima de Bragança, mas o que escondem as obras do AVE?

A estação ferroviária de Alta Velocidade Espanhola de Otero de Sanabria aproxima a cidade de Bragança e a região à capital espanhola. Mas por detrás desta inauguração, com presença do presidente da Câmara Municipal de Bragança, escondem-se mortes e precariedade decorrentes das obras. Notícia publicada no Interior do Avesso.
Manifestação sobre as obras do AVE. Junho de 2020 - Foto de CIG | Facebook
Manifestação sobre as obras do AVE. Junho de 2020 - Foto de CIG | Facebook

No dia 22 de julho foi inaugurada a estação ferroviária, que acolhe a Alta Velocidade Espanhola (AVE), em Otero de Sanabria, na província espanhola de Zamora, segundo a Rádio Brigantia. A região de Bragança passa assim a estar a menos de três horas de Madrid.

A viagem de comboio entre Otero de Sanabria e Madrid passa a ser feita numa 1 hora e 50 minutos, mais os 49 quilómetros que existem entre Bragança e a estação ferroviária em questão.

A inauguração contou com a presença de Hernâni Dias, presidente da Câmara Municipal de Bragança, que destacou o impacto da concretização desta reivindicação antiga, ao aproximar o concelho do resto da Europa, mas reforçou também que tem de ser resolvida a questão da ligação rodoviária à estação de Otero de Sanabria.

Entretanto, as obras na linha ferroviária continuam do lado da Galiza e espera-se que ainda este ano se conclua o percurso até Ourense, com a estação ferroviária da Gudinha também muito próxima da fronteira portuguesa.

O que escondem as obras do AVE?

A inauguração da estação ferroviária em Otero de Sanabria era esperada para finais de 2017, tal como referiu o ministro do Fomento espanhol em abril desse mesmo ano, de acordo com o Jornal de Negócios. Nesta altura foram desbloqueadas as obras do AVE no troço entre Madrid e a Galiza

O jornal galego Nós Diário, em maio de 2020, publicou vários testemunhos de trabalhadores das obras da alta velocidade na província galega de Ourense.

A Confederação Intersindical Galega (CIG) foi a promotora desta iniciativa, que mostrou “as condições de escravatura, exploração e falta de segurança laboral” destas obras.

Um dos testemunhos foi o de Xurxo: “Passava o dia todo a trabalhar como um escravo, com os encarregados aos berros e com insultos.

Trabalhamos colocando as travessas da linha sem parar, das oito da manhã até às nove ou dez da noite, até que eles te mandam parar; nesse tempo estávamos sem comer ou comíamos dentro do túnel, quase sem parar, só nos davam uma sande”. Xurxo refere que, às vezes, deixavam-nos ir almoçar ao hotel, mas “descontavam uma hora de trabalho do salário”.

Pedro, outro dos testemunhos recolhidos pela CIG, afirmou que “nunca trabalhamos menos de 10 horas e não nos pagavam as horas extra, mas eles sim as faturavam aos clientes”.

“Não tínhamos as ferramentas necessárias. Às vezes nem nos pagavam o salário normal, e mesmo que reclamasse, eles não ligavam; no final tinha que ligar para Madrid (onde está sediada a empresa) para que me pagassem”.

“Tínhamos assinado que nos iam dar roupa de trabalho, e quando chegou o inverno pedimos à empresa a roupa de inverno, mas negaram-se a dar-nos. Trabalhamos vários dias cheios de frio”.

“Íamos entubar sem material de segurança, sem linhas de vida, nem redes, literalmente suspensos sobre o vazio. Andávamos sem capacete de proteção e ninguém dizia nada, não sei como não houve mais mortes”.

Já em 2015, a União Local do sindicato nacional em Verín e A Limia, denunciava que “as condições laborais nos troços de Lubián, A Gudinha, Viana do Bolo, Campobecerros, Laza e Vilar de Bairro, foram degradando-se de tal forma que, neste momento, pode-se dizer que roçam a miséria laboral e o terceiromundismo”.

Em maio de 2020, a CIG registou que os trabalhadores das obras do AVE já tinham feito mais de 70 mil horas de forma ilegal, tinham acontecido mais de 20 acidentes de trabalho, com seis mortos e à volta de 30 feridos, inclusive com diversas amputações.


Notícia publicada no Interior do Avesso 

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