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Macron: septuagenária ferida em manifestação devia ganhar sabedoria

Geneviève Legay tem 73 anos. É dirigente regional da Associação Attac França. Foi ferida gravemente na cabeça durante a manifestação dos coletes amarelos em Nice no último sábado. Macron causou polémica ao desejar que se tornasse mais sábia.
Foto de Jade Bekhti/twitter

Geneviève levou para a última manifestação dos coletes amarelos uma bandeira da paz. Mas o que lhe aconteceu nesse dia não foi nada pacífico. Uma carga policial deixou-a ferida com gravidade na cabeça.

Geneviève Legay, de 73 anos, é dirigente regional da Attac França, a Associação para a Taxação das Transações Financeiras e pela Ação Cidadã. Esta é uma associação organizada em vários países que luta “pela justiça fiscal, social e ecológica” e que “contesta o poder da finança sobre os povos e a natureza”.

Na sequência da agressão e hospitalização da manifestante, a Attac apresentou queixa devido a “violência voluntária em reunião por pessoa depositária de autoridade pública sobre pessoa vulnerável.” As autoridades alegam que se manifestava em “zona interdita”. Acusação semelhante foi feita pela família de Legay cuja queixa foi feita por “violência propositada cometida por um grupo armado de pessoas em posição de autoridade pública sobre pessoa vulnerável.”

Várias manifestações de solidariedade têm sido organizadas, por exemplo em Nice, Montpellier e Paris. A Attac convoca as manifestações para mostrar indignação face à “grave restrição das liberdades públicas em curso em França.” E diz que a “repressão e a violência policial não ajudarão Emmanuel Macron a responder devidamente às exigências de maior justiça social, que estão a ser expressas por todo o lado no país”.

“Não tenho medo!”

Um pouco antes de ter ficado ferida, Legay tinha feito declarações à CNEWS em que se declarava “uma ativista ecologista, feminista e anti-racista” e sublinhava que as autoridades não tinham comunicado que o ajuntamento fosse ilegal: “estamos aqui para marchar pacificamente, para demonstrar o nosso direito ao protesto.”

Legay afirmou ainda que já tinha falado com a polícia para “tocar os seus corações porque também são seres humanos”. E, quando lhe perguntaram se tinha medo da violência policial respondeu: “não, não tenho medo, tenho 73, o que me poderia acontecer?”

A sabedoria condescendente de Macron

Os manifestantes responderam também ao presidente francês, Emmanuel Macron, que causou polémica ao pronunciar-se sobre este caso. Em declarações ao jornal Nice-Matin, ao mesmo tempo que desejou que a septuagenária melhorasse rapidamente, desejou também que ganhasse “sabedoria”. “Quando alguém é frágil e se arrisca a ser empurrado, não deve ir a locais que são declarados fora de limites e não se põe neste tipo de situação”.

Os seus adversários não pouparam nos adjetivos para caraterizar estas declarações. “Condescendente”, “cínico” e “provocador” foram algumas das palavras utilizadas. Estas declarações foram vistas como estigmatizantes das pessoas idosas que não poderiam assumir como as outras o seu direito à manifestação já que sabedoria seria ficar em casa. Foi isso também que expressou Arié Alimi, o advogado de Legay: “não acho muito razoável criticar uma pessoa que está numa cama de hospital, em estado grave, ou considerar que uma pessoa mais idosa não pode expressar as suas convições nas ruas.”

Jean-Luc Mélenchon, dirigente da França Insubmissa, respondeu a Macron que “a nossa Geneviève de Nice não precisa de lições de sabedoria. Você é que teria muito a aprender com ela.”

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