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Louçã: Governador do Banco de Portugal “é um perigo para o país”

“Creio que este governador demonstrou uma impreparação técnica, uma vulnerabilidade a pressões externas e uma incapacidade de consolidar o sistema bancário com o sistema de confiança para os depositantes que o torna um perigo para Portugal”, afirmou Francisco Louçã em entrevista à Lusa.
A atuação do supervisor no caso do Banif foi reveladora dessa impreparação, no entender do economista: “No caso Banif, atuou pessimamente. Ou por decisão própria, ou por impulso de Frankfurt, o facto é que o governador contribuiu para uma iniciativa que foi desastrosa para a economia portuguesa”.
Louçã afirma que “era evidente” que Bruxelas “queria capitalizar o Santander” e criou regras “de um concurso totalmente viciado” em que só um dos candidatos foi aceite, pois a venda já tinha sido “previamente aprovada” pela Comissão. “O acordo é uma prova exuberante desta violência institucional. O Santander aliás não o escondeu, veio declarar nas contas em que 20 dias tinha feito 280 milhões de euros de lucro”, considerou, sublinhando que esta é “a ação política do BCE e da Comissão Europeia”.
Criticando a “vulnerabilidade” do ministro Mário Centeno às pressões externas, Louçã diz que “Portugal não pode continuar a ceder aos colapsos bancários sucessivos financiados por impostos”. Quanto à tão proclamada solidez do sistema financeiro português, Francisco Louçã é taxativo ao dizer que “se a banca todos os dias recorre a empréstimos de liquidez, quer dizer que não está a funcionar” e ao defebder que a banca portuguesa “não pode continuar a depender do BCE.
“O sistema bancário tem uma espécie de privilégio exorbitante, majestático, de recorrer a uma tia rica, que lhe está sempre a financiar liquidez sem criar as condições do seu próprio financiamento”, prosseguiu Louçã, recordando o colapso do Banco Espírito Santo e a incapacidade do governador do Banco de Portugal em agir quando conhecia os detalhes da “vinculação tóxica entre o Grupo Espírito Santo e o BES” quase um ano antes da resolução do banco.
“Claro que se pode discutir sempre se a supervisão é enganada nos artifícios de estruturas muito preparadas para o enganar. Mas nesse ano não tem nenhuma desculpa para não ter atuado. E quando atuou, atuou mal”, prosseguiu Francisco Louçã, prevendo que o buraco do BES/Novo Banco possa vir a aumentar com a operação de venda. “Se for vendido, o que já de si é uma péssima decisão, está evidente que não há nenhuma condição para reaver os 3.900 milhões de euros dos empréstimos do banco; que o Fundo de Resolução vai ter prejuízos, que isso significa redução de receita fiscal ao longo dos próximos anos”, concluiu.
Louçã e Ricardo Cabral querem dividir o Novo Banco em dez
Segundo a edição desta quarta-feira do jornal Público, Francisco Louçã e Ricardo Cabral entregaram no início de dezembro ao ministro das Finanças uma proposta para manter o Novo Banco sob propriedade pública, impedindo “a desagregação do sistema bancário português” proposta por Bruxelas.
Alertando para “um risco de espanholização do sistema bancário português”, o conselheiro de Estado e o vice-reitor da Universidade da Madeira querem prevenir a repetição do caso Banif, com a venda do Novo Banco a um gigante da banca europeia “O BCE quer o Santander como banco europeu de referência para a Península Ibérica. Isso provoca uma situação terrível de dependência, mesmo num ponto de vista de integração económica à escala europeia”, afirmou Louçã ao Público.
Mas a decisão do Banco de Portugal de transferir quase 2 mil milhões de euros em obrigações do Novo Banco para o “banco mau”, ao mesmo tempo que injetava dinheiro público no Banif para o vender em seguida ao Santander, levou os dois economistas a alterarem a proposta entregue a Centeno no início de dezembro.
A solução agora proposta passa por dividir o Novo Banco “à americana” em dez bancos pequenos, para ficarem fora da alçada do Banco Central Europeu, criando um 11º banco para absorver 50% da dívida sénior reestruturada do Novo Banco. Com esta operação que qualifica de “legalíssima e normalíssima”, seria possível “manter o banco na esfera pública, como pilar do sistema bancário nacional”, defende Louçã, para poder “ampliar a capacidade de desenvolver uma política de crédito para estimular a recuperação económica e o investimento.”
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