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Jornalista condenada na Turquia por reportagem sobre os “Paradise Papers”

A revelação das offshores em Malta detidas pelo ex-primeiro-ministro turco Binali Yildirim e os seus dois filhos valeram à jornalista Pelin Ünker uma condenação a 13 meses de prisão por “difamação e insulto”.
Pelin Ünker, agora jornalista freelancer, foi condenada por difamação na Turquia, apesar de todos reconhecerem os factos descritos na sua reportagem. Foto publicada no site do ICIJ.org

A notícia foi dada no âmbito da investigação do consórcio internacional de jornalistas de investigação (ICIJ) e publicada no diário turco Cumhuriyet. Os nomes do ex-primeiro-ministro Binali Yildirim e os seus dois filhos constavam na lista de beneficiários de offshores sediadas em Malta. Yildirim chefiou o governo turco entre maio de 2016 e julho de 2018, tornando-se presidente do parlamento turco quando o cargo de primeiro-ministro foi abolido com a mudança para um regime ainda mais presidencialista sob a batuta do presidente Erdogan.

Apesar de tanto os envolvidos como o próprio tribunal considerarem verdadeiros todos os factos revelados pela investigação jornalística, isso não bastou para evitar a condenação da jornalista, que assim se tornou a primeira em todo o mundo a ser condenada por revelar os nomes da lista que ficou conhecida como “Paradise Papers”.

“Esta decisão não é uma surpresa para mim. O resultado estava definido desde o início. Não há nenhuma ilegalidade ou difamação nos meus artigos”, reagiu a jornalista ao portal do ICIJ após ser conhecida a sentença.

Esta decisão judicial é mais um exemplo da perseguição movida aos jornalistas turcos, reconheceu Pelin Ünker. “Há anos que os jornalistas enfrentam coisas como estas na Turquia. Eu sou apenas mais uma”, afirmou, relacionando a mão dura da justiça com a aproximação das eleições municipais, em que Binali Yıldırım aparece na corrida para governar a cidade de Istambul.

O jornal Cumhuriyet, considerado um dos poucos com linha editorial independente do regime de Erdogan, também foi condenado a pagar uma multa de cerca de 1.400 euros. Na reportagem sobre os “Paradise Papers”, foram expostas ligações entre as companhias offshore dos filhos do ex-primeiro-ministro, Erkam e Bülentn Yildirim, e uma empresa com o mesmo endereço postal que ganhou um concurso público no valor de cerca de 6 milhões de euros. O dono desta empresa tinha sido sócio do ex-primeiro-ministro antes de este assumir cargos políticos.

Na sequência dessas revelações, todos os envolvidos assumiram que detinham as empresas citadas, com Binali Yildirim a desvalorizar a notícia, dizendo que nada tinha a esconder e que o recurso a companhias offshore faz parte do dia a dia do negócio marítimo.

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