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Israel: Novo Governo é mais do mesmo, dizem palestinianos

Conhecido por ter estado envolvido no massacre de Qana em 1996 e por ter dito “matei muitos árabes na minha vida e não há problema nenhum com isso”, Naftali Bennett estreia-se à frente do executivo a autorizar a marcha da extrema-direita que celebra a anexação de Jerusalém Leste.
O novo primeiro-ministro e o seu principal aliado num encontro com o presidente israelita. Foto de ATEF SAFADI/EPA/Lusa.
O novo primeiro-ministro e o seu principal aliado num encontro com o presidente israelita. Foto de ATEF SAFADI/EPA/Lusa.

No passado domingo, os 12 anos de chefia do governo de Benjamin Netanyahu chegaram oficialmente ao fim. O Parlamento israelita aprovou o voto de confiança ao novo Governo com 60 votos a favor, 59 contra e uma abstenção. Mas o ex-primeiro-ministro jura que a sua história à frente dos destinos do país não terminou e promete voltar, derrubando a heteróclita coligação de oito partidos que o afastou.

À frente do governo passa a estar agora Naftali Bennett. Igualmente proveniente da extrema-direita e ultra-liberal, antigo chefe de gabinete de Netanyahu e seu ministro da Defesa, Educação e Economia em vários governos, milionário do setor da alta tecnologia. O seu passado não augura nada de positivo para as relações com os palestinianos. Bennett foi das Sayeret Matkal, unidade de elite das Forças Armadas de Israel, e nessa qualidade esteve envolvido no massacre de Qana em 1996, uma aldeia do sul do Líbano. Para apoiar o avanço desta unidade, o exército israelita bombardeou um campo de refugiados da ONU, causando a morte a 106 civis.

Foi também um ex-dirigente do Yesha, o principal grupo de colonos da Cisjordânia, e especialista em discursos incendiários. Dele são as frases: “Matei muitos árabes na minha vida e não há problema nenhum com isso” e “se apanhas terroristas só tens de os matar” sobre os prisioneiros palestinianos.

Se o governo aguentar até lá, daqui a dois anos o acordo entre as partes prevê que seja substituído por Yair Lapid, estrela televisiva, conhecido como centrista mas que foi também aliado de Netanyahu, tendo sido brevemente seu ministro das Finanças.

A saída de Netanyahu do poder foi festejada no domingo à noite por milhares de pessoas. Por exemplo, em frente ao Knesset, em Jerusalém, e na Praça Rabin, no centro de Tel Aviv, disse-se “bye bye Bibi”. Uma esperança que não é de todo partilhada pelos palestinianos, que frisam as semelhanças entre Netanyahu e Bennett. Este é, de acordo com Mohammad Shtayyeh, o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, tão mau como o seu predecessor: “Não vemos este novo governo como menos mau do que anterior e condenamos o anúncio do novo primeiro-ministro Naftali Bennett em apoio dos colonatos israelitas”. O novo governo exclui a possibilidade da criação de um Estado palestiniano, compromete-se com a manutenção das ocupações e Bennett tinha antes apelado a mais força nos ataques a Gaza.

Extrema-direita marcha em Jerusalém Oriental

Uma das primeiras medidas deste novo governo foi autorizar uma marcha de extrema-direita em Jerusalém Oriental que pretende celebrar esta terça-feira a sua anexação por Israel em 1967. O governo de Netanyahu, em fim de mandato, já tinha dado antes autorização, mas depois decidira adiá-la. Omer Bar-Lev, o novo ministro da Segurança Interna, nesta segunda-feira, deu luz verde para um evento que é classificado como uma provocação por vários setores políticos palestinianos.

O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammad Shtayyeh, na sua conta de Twitter, avisou das “perigosas repercussões que podem resultar da intenção da potência ocupante de permitir que colonos extremistas façam uma Marcha das Bandeiras na Jerusalém ocupada”. Considera-a uma “provocação e agressão contra o nosso povo”. O Hamas apelou a uma “brava resistência” que “se erga face ao ocupante e resista por todos os meios de forma a parar os seus crimes e arrogância”. E Mansour Abbas, líder da Lista Conjunta, o partido árabe que também se juntou à grande coligação anti-Netanyahu, disse numa rádio local, em declarações citadas pelo Guardian, que se opõe a “qualquer provocação” e que “quem tenha visto e seguido esta parada sabe qual o seu propósito”.

A Marcha das Bandeiras passa tradicionalmente pela Porta de Damasco, na Cidade Velha, que recentemente foi palco de confrontos entre a polícia e palestinianos que protestaram contra restrições de ajuntamentos no Ramadão. O desfile original deste ano começou por ser realizado a 10 de maio, mas a polícia ordenou uma alteração do percurso precisamente para evitar a passagem por esta zona num contexto de contra-manifestações e em que o Hamas respondeu com o lançamento de rockets.

Ainda assim, as justificações de Bar-Lev para autorizar a marcha da extrema-direita foram que as manifestações “são um direito de todos em democracia”, garantindo ainda que “a polícia está pronta e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar o delicado tecido da coexistência”. O percurso terá sido estudado e negociado com os organizadores do evento, assegura o governo, mas não se sabe se passa pelas zonas consideradas mais problemáticas. A imprensa israelita tem anunciado que passará mesmo pela Porta de Damasco, mas sem entrar no bairro muçulmano. De qualquer forma, estão previstas contra-manifestações em vários pontos da Palestina e a tensão voltou a crescer. E a gestão do que acontecer está a ser vista como o primeiro grande teste do novo governo.

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