Israel: Como combater a lista negra de Gilad Erdan

22 de January 2018 - 11:29

O ministro israelita responsável pelas questões estratégicas, Gilad Erdan, tem uma obsessão: a campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções. Artigo de Michael Warschawski.

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Concentração de ativistas da campanha BDS em Nova Iorque, em frente ao hotel onde se realizava a conferência nacional do Jewish National Fund em 2016 Foto Joe Catron/Flickr

O ministro responsável pelas questões estratégicas, Gilad Erdan, tem uma obsessão: BDS… o que é uma boa notícia para a nossa campanha.

Ele acaba de publicar uma lista, entregue ao ministério do Interior que é responsável pelas fronteiras, das organizações cujos membros são indesejáveis no território israelita (e nas suas estensões coloniais). Europeias, norte-americanas (os Quakers em particular) e sul-americanas, bem como uma organização progressista judaica - Jewish Voice for Peace.

Como é que o ministério de Erdan saberá quem pertence a esta ou aquela organização? Onde obtém as informações sobre a pertença deste ou daquele americano ou britânico a uma organização identificada como hostil à política colonial israelita? São algumas das questões levantadas pelas organizações israelitas de defesa dos direitos humanos.


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Há uma dúzia de anos, enquanto Israel proibia a entrda no seu território das e dos militantes das Missões Civis para a Proteção do Povo Palestiniano (CCIPPP), procurei mobilizar os diplomatas europeus em Jerusalém. De forma unânime, responderam-me que a questão das fronteiras está no âmago da soberania nacional, e que por isso não queriam nem podiam intervir. Tomei nota.

Mas na diplomacia existe também outro princípio, o da reciprocidade. Se os estados europeus tivessem um mínimo de dignidade, publicariam a lista das instituições israelitas implicadas na violação do direito internacional: as organizações fascistas, os movimentos de colonos… e o exército, e anunciaram que as pessoas suspeitas de pertencerem a alguma dessas organizações seriam interrogadas à entrada do território europeu e podiam ser expulsas. Por outras palavras, a grande maioria dos homens israelitas arriscaria ter problemas nos postos fronteiriços de Schengen.


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O simples anúncio de uma eventual medida deste tipo provocaria o pânico em Israel e obrigaria imediatamente Gilad Erdan a embrulhar a sua lista negra. O problema é que a Europa de Merkel e Macron já não tem nada em comum com a Europa dos anos 1970 e 80, a da cimeira de Veneza de 1980: ela tornou-se politicamente insignificante e moralmente anestesiada. Os seus dirigentes, além disso, perderam toda a noção de dignidade. Não nos espantemos então que um pequeno charlatão como Erdan possa permitir-se tratar cidadãos europeus empenhados e unicamente armados de princípios e valores como pequenos criminosos. Ele sabe que não se arrisca a quaisquer represálias.

Publicado na página de Facebook do autor. Traduzido por Luís Branco para o esquerda.net.


Michel Warschawski é escritor e jornalista, fundador da ONG Alternative Information Center, que junta ativistas de Israel e Palestina.