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Inovação: EUA estão a tornar-se num país do 3º mundo?
Os EUA já lideraram o mundo com altas taxas de educação ao nível de ensino secundário. De vinte e quatro países industrializados, estão agora em 18º lugar.
Está a América a tornar-se num país do terceiro mundo? Este foi o tópico provocador de um painel em que participei na semana passada numa conferência patrocinada pelo The Economist denominada "Innovation: Fresh Thinking For The Ideas Economy." (Inovação: Pensamento Novo para a Economia das Ideias)
Era uma vez, os Estados Unidos eram os mais inovadores do mundo - em parte porque não tínhamos muita concorrência Como resultado da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial, a migração maciça dos recursos intelectuais para os Estados Unidos por causa da guerra, e enormes montantes de gastos governamentais, a América tinha o campo da inovação largamente para si própria. Nenhum destes factores existe ao entrarmos na segunda década do século XXI.
A América tem agora muitos países com quem está em competição - muitos dos quais abordam a inovação com mais seriedade do que nós. Basta olharmos os números:
Um relatório da Fundação para Informação da Tecnologia e Inovação verificou o progresso feito na última década na área da inovação. Dos 40 países e regiões examinados, os Estados Unidos ficaram em último lugar.
Um estudo sobre inovação feito pelo Boston Consulting Group concluiu que a América está em "desvantagem em várias áreas-chave, incluindo a qualidade da mão-de-obra e económica, imigração e políticas infra-estruturais."
Em 2009, as patentes emitidas a pedidos feitos por americanos caíram em 2,3%, enquanto as que foram concedidas aos pedidos feitos por estrangeiros aumentaram acima dos 6%.
Porque estamos nós a ficar para trás desta maneira? Por uma razão: perdemos a nossa vantagem educacional. A América já liderou o mundo com altas taxas de educação ao nível de ensino secundário. De 24 países industrializados, estamos agora em18º lugar.
E a percentagem dos 15 anos de idade, com um desempenho aos mais altos níveis em matemática, está entre as mais baixas. A Coreia do Sul, a Bélgica e a República Checa, entre outros, têm, pelo menos, cinco vezes mais o número que têm os Estados Unidos.
Além disso, já não estamos mais a investir em inovação. Até 1979, cerca de 50% de todos os fundos para investigação e desenvolvimento eram concedidos pelo governo federal. Esse número caiu para 27%. E durante os anos de 1990, perdeu-se valor do fundo dos Estados Unidos para ciência aplicada, caindo em 40%.
A crise económica também tem deixado as suas marcas na inovação. Nos três primeiros trimestres de 2009, o capital de risco investido em inovação nos Estados Unidos foi de 12 mil milhões de dólares contra os 22 mil milhões em igual período de 2008.
Estes números podem não nos colocar no terceiro mundo... ainda. Mas a tendência não é boa.
A acrescentar ao problema está o sentimento de que os melhores dias da América podem ter ficado para trás. Muitos economistas e historiadores têm vindo a advertir que a nossa actual crise económica criou uma nova normalidade. Isto é, que o país nunca mais será o mesmo. As coisas vão, com certeza, ser diferentes. Mas isto não quer dizer que vão ser piores. No entanto, se não levarmos a sério a inovação, aí, sim, vão ser piores. Quando se trata da nossa abordagem à inovação, precisamos desesperadamente de alguma.
Para começar, precisamos de avançar rapidamente com os nossos planos para a Internet de alta velocidade. Uma informação em alta velocidade alargada a todo o país, carregada com uma banda larga robusta, vai ser a chave para nos mantermos à frente da curva da inovação.
Como explica o presidente da FCC Julius Genchowski, a banda larga não é só importante para e-mails mais rápidos e jogos de vídeo - é o sistema nervoso central para democracias e economias do futuro:
Banda larga é infra-estrutura indispensável para o século XXI. Já se está a transformar no fundamento da nossa economia e democracia deste século... [e] será a nossa plataforma central para a inovação no século XXI.
Como é que é indispensável? Num estudo de 120 países, os investigadores verificaram que por cada 10% de aumento na adopção da banda larga, o PIB desse país cresceu 1,3%.
Infelizmente, quando se trata de banda larga, a América também está a ficar para trás.
Em 2001, os Estados Unidos posicionavam-se em 4º lugar no acesso à banda larga no ranking dos países industrializados. No ano passado, já tínhamos caído para 15º. Quanto à média da velocidade de download da banda larga, estamos em 19º lugar.
Perto de 93 milhões de americanos ainda não têm banda larga em suas casas. E enquanto 82% dos que se encontram inscritos nas universidades nos Estados Unidos têm acesso à banda larga, apenas 46% dos que têm o ensino secundário a têm.
Para ajudar a fechar a crescente lacuna que existe entre nós e o resto do mundo ligado digitalmente, a administração Obama propôs um Plano Nacional de Banda Larga, com o objectivo de aumentar o acesso à mesma dos actuais cerca de 65% para 90% em 2020.
O plano proposto iria tornar a banda larga acessível a 100 milhões de americanos em 2020, e assegurar que todos os que acabem o ensino secundário estejam digitalmente alfabetizados.
Isto parece óptimo. Mas 2020? Atendendo a que já estamos atrasados, que tal iniciarmos uma versão do Projecto Manhattan em banda larga? Se é realmente uma prioridade, e, como parece óbvio, importante para a segurança nacional e a posição relativa dos Estados Unidos no mundo, porquê adiá-la uma década?
Um outro foco da inovação é a economia verde. Uma proposta para fazer avançar rapidamente a inovação verde é a criação do Banco Verde, que, de acordo com John Podesta e Karen Kornbluh, irá "abrir mercados de crédito e motivar as empresas a investir de novo" e " permitir que as tecnologias de energia limpa - em áreas como eólica, solar, geotérmicas, biomassa avançada, e eficiência energética - sejam desenvolvidas em larga escala e se tornem comercialmente viáveis aos custos actuais de electricidade."
Um banco assim também poderia ajudar a libertar o crédito disponível para pequenas empresas, e estabelecer a fonte segura de financiamento a empresários empenhados em tecnologias verdes e novos começos.
Felizmente que esta proposta já está a caminho do Congresso. Reed Hundt, antigo presidente do FCC no governo do presidente Clinton, é agora o chefe de um grupo chamado Coalition for Green Capital, cujo objectivo é "estabelecer um governo próprio, global, um banco sem fins lucrativos que preencha a lacuna que existe, hoje em dia, na América sobre a legislação de energia limpa." Hundt está agora ao lado do Congressista Ed Markey na tentativa de conseguirem que a proposta do Banco Verde faça parte do próximo projecto-lei. O que faz sentido, uma vez que, de acordo com o grupo de Hundt, um Banco Verde iria criar cerca de quatro milhões de empregos até 2012.
Uma outra área pronta para inovação é a nossa política de imigração - em particular quando se trata da concessão de vistos a empresários estrangeiros.
Grandes ideias vêm de todas as partes do mundo, e se nós não acolhermos as pessoas com essas grandes ideias tornando fácil a sua vinda para cá, eles irão para outro lado. Na realidade, já estão a ir para outros lados. Neste momento, os Estados Unidos têm um limite de 65 mil vagas à imigração de trabalhadores especializados, e um adicional de 20 mil para os licenciados pelas universidades americanas. Este tipo de restrição rígida não faz sentido no mundo de hoje em dia. O "processo de vistos tem sido flagelado com pedidos pendentes decorrentes deste tipo de quota", diz Jonathan Ortmans, um oficial superior da Fundação Kauffman. "Por causa desta restrição, há muitos imigrantes altamente qualificados à procura de oportunidades noutros países num mercado de trabalho global cada vez mais competitivo, levando consigo as suas ideias inovadoras."
Startupvisa.com - é um grupo com uma proposta inovadora para o aumento da participação da América no mercado das ideias globais. O seu objectivo é tornar mais fácil a vinda para os Estados Unidos de empresários estrangeiros que queiram iniciar negócios para a criação de mais emprego.
A nossa lei actual permite a investidores estrangeiros obter um visto caso pretendam iniciar um negócio nos Estados Unidos com um capital de 1 milhão de dólares e que criem, no mínimo, 10 empregos aqui. Os capitalistas de risco por trás da empresa Start Up Visa querem alterar a ênfase dada a investidores estrangeiros para empresários estrangeiros que possam obter fundos de investidores americanos. A ideia é recompensar boas ideias. E ao exigirmos àqueles que têm boas ideias que primeiro consigam fundos estrangeiros, provavelmente estamos a fazer com que eles decidam criar as suas empresas num outro lugar.
Esta proposta está também na mira legislativa. O Start Up Visa Act é co-patrocinado pelos Senadores John Kerry e Richard Lugar. O projecto-lei iria criar dois anos de vistos para imigrantes empresários que consigam angariar um mínimo de 250 mil dólares, com 100 mil dólares vindos de um investidor americano qualificado ou um investidor de risco. Passados dois anos, caso o empresário imigrante consiga criar cinco ou mais postos de trabalho (não incluindo os filhos ou a esposa), atrair um investimento adicional de 1 milhão de dólares, ou produzir 1 milhão de dólares em rendimentos, então ele ou ela poderia tornar-se num residente legal.
Kerry e Lugar explicaram o seu ponto-de-vista num recente artigo de opinião:
Numa altura em que muitos se questionam se os democratas e os republicanos se podem unir em alguma coisa, existe, pelo menos, uma área em que estamos inteiramente de acordo. Acreditamos que a América é o melhor país do mundo para fazer negócios. E agora é o tempo de atingirmos os empresários imigrantes - homens e mulheres que vieram de outros países para estudarem nas nossas universidades, e muitos outros com grandes ideias no estrangeiro - que ajudem a impulsionar a inovação e criação de empregos aqui no nosso país.
Os senadores, que esperam ver a medida aprovada este mês, colocam-na como uma iniciativa de emprego e não como uma iniciativa à reforma da imigração, e pretendem poder incluí-la como parte de um projecto-lei mais alargado destinado a ajudar pequenas empresas a criar empregos. "Este programa é um pequeno adiantamento na recuperação para a competitividade global," disse Kerry ao Business Week.
Estas, naturalmente, são apenas três maneiras de promover a inovação. Mas são excelentes exemplos daquilo que é necessário fazer se queremos livrar-nos da nossa complacência e evitar o deslizar lento para um estatuto de terceiro mundo.
A América é rica em recursos - tanto naturais como humanos - mas não podemos dar-nos ao luxo de os utilizar de forma ineficiente. Não podemos ser a única nação do mundo industrializado na qual metade do país não tem acesso à banda larga. Não podemos permitir que outros povos tomem o comando em criar uma economia sustentável. E não podemos continuar a tornar tão difícil o iniciar um negócio neste país a pessoas com ideias de criação de emprego.
Tradução de Noémia Oliveira
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