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A inflação é mais alta para as famílias mais pobres

A taxa de inflação, calculada a partir de um cabaz de consumo médio, não toca este fenómeno. Mas as pessoas com menos rendimentos enfrentam mais inflação, nomeadamente por causa dos preços da energia e dos alimentos. Em Portugal, o fosso entre mais ricos e pobres está a aumentar.
Lâmpada. Foto de ixtailustra/pxhere.

Na maior parte da União Europeia, as famílias com menos rendimentos fazem face a taxas de inflação mais elevadas. Portugal está incluído no grupo de países onde isto acontece e, aqui, a situação está a agravar-se.

Esta conclusão, noticiada esta quinta-feira pelo Expresso, vem do estudo Inflation inequality in the European Union and its drivers publicado em meados do mês passado. Esta análise foi publicada pelo Instituto Bruegel, um think tank europeu financiado por vários Estados e empresas, anunciado em 2004 por Chirac e Schröder, e que já foi dirigido por figuras como Jean-Claude Trichet e Mario Monti.

A investigação, assinada por Grégory Claeys, Lionel Guetta-Jeanrenaud, Conor McCaffrey e Lennard Welslau, partiu do princípio de que os consumos das famílias são diferenciados de acordo com os seus rendimentos, ao passo que as estatísticas nacionais e do Eurostat são calculadas com base num cabaz de consumo médio. É por isso que os aumentos de preços têm impacto muito variável nos bolsos de cada um.

Para tentar destrinçar as diferenças nos tipos de consumo, estes autores fizeram inquéritos sobre os orçamentos familiares de forma a perceber quais eram os cabazes de consumo ajustados aos escalões de rendimento.

O resultado da análise foi uma resposta consistente: em 20 dos 27 países da União Europeia, em dezembro de 2022, as famílias que estavam no patamar dos 20% de rendimentos mais baixos tinham de fazer face a uma taxa de inflação mais alta quando comparadas com as famílias no patamar dos 20% mais ricos.

Em declarações àquele jornal, Claeys, um dos seus co-autores, explicou que também em Portugal “os agregados familiares com menores rendimentos enfrentam uma taxa de inflação bem mais alta do que os agregados com maiores rendimentos”.

Para as pessoas com menos rendimentos, a taxa de inflação homóloga, em dezembro de 2022, era de 12,2%, contrastando com os 10% dos mais ricos. Um diferencial que era o décimo mais elevado do espaço económico europeu.

As diferenças são resultado “em grande medida” de “duas categorias de despesa: energia e alimentação”, declara o economista. São os preços destes bens essenciais que têm vindo a subir e “as famílias com menos rendimentos gastam uma fatia maior do seu orçamento” neles. “O agravamento dos preços da eletricidade em Portugal nos últimos meses pode ajudar a explicar”, complementa.

O fosso entre mais ricos e mais pobres está também a aumentar. O mesmo estudo mostra que, em setembro passado, a diferença na inflação dos mais pobres e dos mais ricos era de cerca de 0,5%. No final do ano atingia já 2,2%. A mesma tendência de agravamento se verificou em mais nove países.

A exceção vem de países como Espanha e França nos quais a inflação dos mais pobres fica abaixo da dos mais ricos. Claeys explica isso porque estes “são países onde os preços da energia já estão a cair em termos homólogos”.

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