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Inéditos de Marcel Proust com teor homossexual publicados 123 anos depois

Nove textos de Marcel Proust, escritos quando tinha cerca de 20 anos, vão ser publicados em outubro. Deveriam ter feito parte do seu primeiro livro, “Os prazeres e os dias”, mas o seu caráter homossexual tornava-os demasiado ousados para a época.
Pormenor de uma pintura mural dedicada a Marcel em Illiers-Combray.
Pormenor de uma pintura mural dedicada a Marcel em Illiers-Combray. Foto de Yvette G. Flickr.

Foram mais de cento e vinte anos de tempo perdido. Em 1896, o escritor Marcel Proust publicava o seu primeiro livro, “Os prazeres e os dias”. Dele ficou excluído, aparentemente por decisão do autor, um conjunto de nove textos.

São estes textos que vão ser publicados no início do próximo mês de outubro com o título “O Misterioso Correspondente e outras novelas inéditas” pelas Editions de Fallois. Estes foram descobertos pelo criador desta editora, Bernard de Fallois, falecido em 2018. O mesmo que antes tinha já descoberto um romance do mesmo autor que a Gallimard acabou por publicar em 1952.

No comunicado que revelou sobre a descoberta e publicação deste material, a editora sublinha a sua importância para analisar as fontes de “Em busca do Tempo Perdido” e considera que “estes textos trazem a marca de um trabalho aprofundado” no quais “se vê o jovem escrito multiplicar as experimentações narrativas sugeridas por vezes pelas suas leituras mas já resolutamente envolvidas no processo de criação que anuncia através de muitos sinais a obra futura”. Contudo, não deixam de sublinhar os editores, “estas páginas inéditas não têm a perfeição de “Em busca...” mas precisamente ajudam-nos a compreendê-lo melhor revelando o que foi o seu princípio.”

O texto dos editores parte do princípio que a sua exclusão se fica a dever “sem dúvida” à “sua audácia” que iria “chocar um meio social no qual prevalecia uma forte moral tradicional”. Trata-se de textos que analisam o “amor físico tão injustamente criticado” em que “a tomada de consciência da homossexualidade é vivida sob o modo exclusivamente trágico, como uma maldição”.

Luc Fraisse, professor da Universidade de Estrasburgo, foi o responsável pelo trabalho de transcrição, anotação e apresentação dos textos.

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