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Há um longo caminho por fazer na questão da igualdade de género

Marisa Matias afirmou, numa sessão pública intitulada “Cidadãs”, que se as questões dos feminismos estão a ser colocadas na agenda, só provam que levamos muito tempo de atraso, e sublinhou que “não estamos em tempo de preconceitos, estamos em tempo de juntar forças”.
Foto de Paulete Matos

A Padaria do Povo, em Campo de Ourique, Lisboa, encheu-se esta segunda-feira para ouvir falar de igualdade de género, numa sessão promovida pela candidata presidencial Marisa Matias, que salientou que “não conseguiria estar na posição de apresentar uma candidatura a Presidente da República e não discutir estas questões”.

A sessão “Cidadãs” foi moderada pela jornalista Fernanda Câncio, e contou com intervenções de Almerinda Bento, dirigente da UMAR, e das jornalistas Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues, para além de Marisa Matias. A deputada Mariana Mortágua também constava do painel, mas apareceu apenas no início para informar que “a coisa mais feminista que vos posso dizer é que não posso ficar hoje porque tenho de ir tratar da resolução de um banco”.

Marisa Matias, que tem uma longa trajetória de luta e de envolvimento cívico pela igualdade e pelas questões feministas, destacou vitórias importantes que se foram conquistando nos últimos anos, como a despenalização do aborto, em 2007, a “audácia de meter a colher na violência doméstica e de conseguir que fosse crime público”, ou a questão da paridade. Lembrou, contudo, que o facto de já haver 30% de mulheres nas listas é algo completamente diferente da questão da disputa do poder, onde ainda há muito por fazer.

“Habituei-me a estar, no Parlamento Europeu, nas chamadas áreas dos homens”, nomeadamente nas pastas económicas e financeiras, e “foi preciso muito caminho para ganhar algum respeito”, disse, evidenciando o descrédito com que ainda se olha para as mulheres na política, e acrescentou que as mulheres precisam de “fazer um trabalho redobrado e provado não sei quantas vezes” e “ter as mesmas ou mais qualificações”.

 "Não temos, em Portugal, feminismo a mais, temos feminismo a menos"

A candidata denunciou, igualmente, os vários insultos que tem recebido, não só a propósito da organização desta sessão, mas da sua candidatura em geral, e afirmou que “é incrível como ainda é inadmissível, para alguns setores da sociedade, que alguém da minha idade, mulher, se candidate [a Presidente da República], e ainda por cima se afirme de esquerda e feminista”.

Segundo Marisa Matias “não temos nenhuma razão, com um caminho tão grande para fazer, de diminuir forças. Temos todas as razões e obrigações de juntar forças, porque não temos, em Portugal, feminismo a mais, temos feminismo a menos”, disse, sublinhando o tanto “por fazer em matéria de igualdade”.

Para Almerinda Bento, dirigente da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, “os movimentos sociais, em geral, em Portugal, estão numa situação de grande refluxo e de grande atraso, e os movimentos feministas não são diferentes”. Segundo a mesma, este “pode ser um bom momento para sairmos das nossas caixas, para encontrarmos os meios para pormos em diálogo e em ação as nossas organizações feministas e de defesa dos direitos para que se encontrem no que é essencial, não iludindo as diferenças, mas mobilizando e dando voz e visibilidade às mulheres na sua diversidade”.

"É muito importante que existam mulheres a assumir e a ocupar o espaço público"

Já para Rita Ferro Rodrigues, “é muito importante que existam mulheres a assumir e a ocupar o espaço público”. Para a apresentadora é preciso que as mulheres se unam, “independentemente das suas convicções políticas e dos seus graus de conhecimento em relação à sua própria história”, é preciso “alargar o debate às novas gerações e sobretudo às mulheres” que, “àvidas de informação”, conseguem identificar as discriminações mas não lhes sabem dar um nome. “Acredito que a sororidade é mesmo o caminho, um caminho muito difícil, mas acho que é possível e batalho por isso todos os dias”, concluiu.

"Temos de chegar àquelas pessoas que não sabem sequer o que significa a palavra feminismo”

Iva Domingues defendeu, por sua vez, que para o movimento feminista ganhar força “a informação e o entendimento têm que ir o mais além possível”. A apresentadora esclareceu que nenhuma classe ou partido é detentor do feminismo, e que só quando o seu conceito for entendido e assimilado por todos/as é que “haverá força para o feminismo estar na agenda política, porque só na agenda política é que se mudam as coisas”. A apresentadora afirmou que é preciso “chegar àquelas pessoas que não sabem sequer o que significa a palavra feminismo” e o que é, de facto, a igualdade de género. 

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