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Há cem anos: proclamada a República Soviética da Hungria
A queda do império Austro-Húngaro, na sequência da Iª Guerra Mundial, deixou no governo uma instável República Popular Húngara de pendor liberal. Em 1918, o partido comunista húngaro era uma organização recém-criada no exílio moscovita. Apenas em novembro de 1918, Béla Kun, o seu líder, regressa à Hungria. A partir daí o crescimento do partido foi imparável.
A crise política e social permanente faz o presidente da República Popular, Mihály Károlyi, chamar o Partido Social Democrata para formar governo por considerá-lo o único em condições de assegurar estabilidade. As greves e a agitação social que iam deitando governos a baixo pareciam fazer desta a única saída.
Contudo, os social-democratas conheciam as suas debilidades e sabiam que sozinhos não durariam no poder. Decidem, por isso, fundir-se com os comunistas dando lugar ao Partido Socialista Húngaro. Na noite de 20 de março os dirigentes comunistas são libertados da prisão, onde se encontravam acusados de confrontos em manifestações. E o presidente da República, ultrapassado pela situação demite-se.
A partir daí, a revolução soviética é proclamada. Soviética só de nome, alertam os críticos que sublinham que o processo não passa pelo poder dos Conselhos Operários e Camponeses que eram meramente simbólicos. Quase imediatamente, a 23 de março os sociais-democratas as divergências insanáveis de programa levam ao afastamento dos sociais-democratas do governo e o poder fica nas mãos únicas do inexperiente partido comunista.
Sándor Garbor torna-se o presidente da República. Mas o nome que fica para o futuro é o do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Béla Kun, o dirigente principal do partido. Lenine, claro, não figurava no governo e tinha problemas seus para resolver à data. Mas é acusado de liderar o processo via telégrafo.
O governo soviético húngaro avança rápido: abole os privilégios aristocráticos, separa Estado e Igreja, legisla o direito à liberdade de expressão e reunião, estabelece a educação e saúde públicas, atribui direitos culturais às minorias, nacionaliza empresas, socializa o setor da habitação, transportes, banca e grandes propriedades.
Só que o governo apenas tem força nas zonas em que há massas proletárias, nomeadamente Budapeste. Grande parte do país está fora do seu alcance e as escaramuças sucedem-se impedindo que o programa democratizante do governo seja implementado. A república soviética está longe de ser unânime e os setores do poder tradicional reagem. E os sociais-democratas também não ficam quietos. A 24 de junho tentam depor o governo e falham. Acossado por todos os lados, o governo recorre a tribunais especiais e execuções dos adversários.
Os aliados utilizam essa fraqueza para procuram obter mais concessões territoriais do país. Segue-se a guerra com Checoslováquia e a Roménia, apoiadas pela França, feita por um exército sem condições de triunfar. A única esperança de sucesso era o apoio do exército vermelho russo que, com graves problemas com os quais tinha de lidar, nunca acabará por chegar.
O governo cai face aos avanços militares romenos e Béla Kun parte para o exílio em Viena. Apenas alguns elementos minoritários e teimosos, como o filósofo Lukács, que tinha sido Comissário da Cultura, persistem na tentativa de organizar um partido na clandestinidade enfrentando o terror branco e a violenta perseguição anti-comunista que se segue à dissolução do poder soviético. A revolução falhara na Hungria.
Os personagens desta história têm destinos muito diferentes. Muitos dos líderes comunistas acabam executados. Lukács consegue sobreviver e torna-se um dos filósofos marxistas mais conhecidos do século XX. Outro ativista comunista também escapa e se torna famoso: o ator Bela Lugosi, dirigente sindical dos atores, terá uma carreira nos Estados Unidos. Kun é outro dos sobreviventes. Apenas para ser executado mais tarde pelo terror estalinista.
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