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Greenpeace quer tributar lucros extraordinários da indústria miitar

Em abril, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI) revelou que a despesa mundial em defesa atingiu o ano passado um máximo histórico. Depois de oito anos de crescimento consecutivo, atingiu-se os 2.036 mil milhões de euros gastos, o que corresponde a 2,2% do PIB mundial.
Face a este contexto, algumas organizações independentes estão a apelar à tributação dos lucros extraordinários deste setor. Alexander Lurz, ativista pela paz e desarmamento da Greenpeace, defende: "A UE aprovou um imposto desse tipo no ano passado para empresas de energia cujos lucros dispararam como resultado da guerra de agressão russa à Ucrânia (...) O mesmo se deve aplicar aos lucros extraordinários das empresas de armas. Se os lucros da Exxon com a guerra de Putin são limitados, isso também se deve aplicar à Rheinmetall & Co."
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os processos de decisão em matéria de defesa têm sido acelerados. E tabus como a utilização do orçamento comunitário estão a ser quebrados. O mais recente caso foi, como explicou o Esquerda.net, em relação ao regulamento para uma Ação Europeia de Apoio à Produção de Munições (ASAP).
Fundos europeus financiam desproporcionalmente empresas com grande poder de mercado
No ano passado, em março, o consórcio de jornalistas Investigate Europe (IE), lançou uma investigação sobre o setor da defesa com conclusões bastante claras: é um setor altamente concentrado e interligado, alimentado em larga medida pelo financiamento comunitário.
O IE descrevia na altura que as cinco grandes empresas europeias, Airbus, Leonardo, Thales, Dassault Aviation e Indra Sistemas, estão estabelecidas e são detidas (parcialmente) pelos Estados de França, Alemanha, Itália e Espanha. Entre 2019 e 2020, estas conseguiram 75% dos fundos do Programa Europeu de Desenvolvimento Industrial de Defesa, atribuídos através de concursos públicos.
Para além disso, é interessante assinalar que estão ligadas com as suas grandes concorrentes estadunidenses, Boeing, Lockheed Martin, Raytheon, Northop e General Dynamics. Os fundos de investimento privados americanos, Capital Group, Wellington Management, Vanguard, Blackrock e Fidelity Investments, detêm participações significativas nos dois lados do Atlântico.
Esta grande concentração implica um desincentivo à investigação e aperfeiçoamento tecnológico, maior capacidade de influenciar as decisões políticas e registo de maiores lucros.
Exemplo significativo disso mesmo foi a inclusão no "Grupo de Personalidades" criado em 2015 para aconselhar a estratégia de Defesa da União Europeia de sete membros pertencentes à indústria militar (Airbus Group, BAE Systems, Finmeccanica – anterior nome da Leonardo -, MBDA, Saab, Indra e ASD). Do total de 16 membros não haviam académicos ou representantes de organizações da sociedade civil.
Empresas europeias de armamento vão continuar a aumentar lucros
Como esperado, dado o atual contexto bélico e a maior procura já nos últimos anos, os benefícios do setor da defesa têm sido transversais aos vários grupos. Por um lado, as duas maiores empresas de defesa dos EUA, Lockheed Martin e Raytheon, registaram lucros recorde em 2023.
Na Alemanha, como descreve o jornal DW, o setor está a “colher o maior dividendo historicamente”. Rheinmetall, o maior grupo nacional, espera que as suas vendas atinjam 7,6 mil milhões de euros em 2023, face aos 6,4 mil milhões do ano passado. Hensoldt, a empresa alemã responsável por garantir muita do radar de defesa aérea para a Ucrânia, tem visto as suas ações em bolsa a disparar em 2023 bem como as suas encomendas.
Por seu turno, a França planeia aumentar a sua despesa militar em 40% entre 2024 e 2030 para atingir os 400 mil milhões de euros. Esta escolha irá beneficiar em particular a Thales, cujo 28% das vendas são para França. A empresa, com sede em Paris, registou um aumento de 15,6% do seu lucro em 2022 para 1,9 mil milhões e 5,5% para as suas vendas.
A italiana Leonardo, embora tenha verificado uma queda no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo do ano passado, 40 milhões em comparação com 72 milhões de euros, confirmou que irá atingir os seus objetivos financeiros para 2023: 17 mil milhões de euros em novas encomendas e receitas entre 15 e 15,6 mil milhões.
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