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Grécia: quatro anos de lutas contra as medidas do governo Mitsotakis

Desde que chegou ao poder, o primeiro-ministro de direita tem multiplicado os ataques contra os trabalhadores. Mas os últimos quatro anos na Grécia também foram de resistência popular. Por Andreas Sartzekis.
Manifestação em Atenas durante uma jornada de greve em abril do ano passado. Foto de GEORGE VITSARAS/EPA/Lusa.
Manifestação em Atenas durante uma jornada de greve em abril do ano passado. Foto de GEORGE VITSARAS/EPA/Lusa.

Desde a sua eleição em junho de 2019, o Primeiro-ministro Mitsotakis multiplicou os ataques contra os jovens e os trabalhadores, aproveitando o seu ressentimento pelos quatro anos do governo Syriza e a divisão na esquerda.

Apesar das brutais medidas antissociais e repressivas, as lutas nunca pararam desde 2019, e mesmo que não tenham mudado a paisagem da esquerda em profundidade, a sua diversidade e carácter massivo continuam a ser um sinal de esperança que vai além das eleições parlamentares de 21 de maio.

As lutas dos trabalhadores apesar dos obstáculos

Tal como durante os memorandos [os diktat de austeridade impostos pela União Europeia aos governos do Syriza], as lutas têm sido em torno dos salários e das condições de emprego, que o governo tem tornado cada vez mais difíceis. No início deste ano, multiplicaram-se os acidentes de trabalho mortais. No sector público, o governo tenta ilegalizar as numerosas greves contra a política de “avaliação”, que é sinónimo de salários “por mérito” e de regressões sociais. No entanto, um obstáculo importante é o da estruturação sindical: face à direção burocrática da confederação única do sector privado e à divisão, a questão de revitalização da ferramenta sindical é uma questão central ligada a uma questão que não tem sido suficientemente avançada, a da unidade da classe, que é decisiva para o futuro próximo.

Para além das jornadas nacionais de greve (24 horas), sempre muito participadas, a atividade reivindicativa manteve-se em muitos setores: lutas vitoriosas por convenções coletivas na efood e nos estivadores da Cosco. As lutas populares com participação sindical, como a que está em curso contra a privatização da água, reforçam o espírito de luta: recentemente, 25.000 pessoas reuniram-se em Salónica, e a Câmara Municipal de Atenas recusou ceder a praça central para uma manifestação do mesmo tipo hoje. O apoio continua à luta exemplar da fábrica VIOME, ocupada há dez anos e relançada pelos trabalhadores!

Lutas contra o Estado policial e em muitos setores!

A resistência mostrou a sua força no Verão de 2019 contra o fim do direito ao asilo para os refugiados e depois contra a criação de uma polícia universitária: o movimento estudantil fez o governo recuar. Durante a pandemia, ocorreram grandes mobilizações contra o estado policial desejado por Mitsotakis e contra a gestão médica catastrófica, com lutas enérgicas nos hospitais públicos. Se o movimento ambientalista não se espalhou a nível nacional como noutros países, há numerosas lutas locais em defesa dos crescentes ataques ao meio ambiente, enquanto Mitsotakis planeia acelerar a perfuração submarina com a ambição anacrónica de que a Grécia se torne um campeão da extração de hidrocarbonetos…

As lutas antirracistas diminuíram de intensidade, apesar da atividade de associações como o movimento KEERFA [Unidos contra o Racismo e os Fascistas], mas a vigilância antifascista continua forte, como demonstram todos os anos as grandes manifestações que comemoram o assassinato do rapper Fyssas pelos nazis. Mencionemos ainda as lutas recentes no sector cultural e arqueológico (privatização dos museus nacionais) ou contra o confisco de bens…

Mas a luta mais marcante, que levou centenas de milhar de gregos para a rua, estourou em Março, após o drama ferroviário de Tèmbi: apesar das manobras para encobrir a sua responsabilidade flagrante, Mitsotakis não poderá impedir que as eleições ressoem com a raiva expressa no slogan “Os nossos mortos, os lucros deles”, com tudo o que isso implica em termos de rutura com a corrida desenfreada do capitalismo


Texto publicado originalmente no L’Anticapitaliste. Traduzido para português pelo CADTM.

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