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Governo não gastou “um tostão” nas medidas urgentes de prevenção de incêndios

No encerramento da Universidade de Verão da Esquerda Europeia, Catarina Martins criticou a inatividade do governo face à inflação, o facto deste estar a abrir a porta a um modelo da Uber que é “o pesadelo dos trabalhadores” e a ausência de investimento na defesa da floresta.

Catarina Martins marcou presença esta segunda-feira no encerramento da Universidade de Verão da Esquerda Europeia. Na intervenção final do evento falou da condenação da invasão da Ucrânia que junta este espaço político, apesar de “formas diferentes de olhar para o que está a acontecer”, da crise da inflação e da maneira como “o governo português continua absolutamente inativo” perante ela, da Uber e do modelo de negócio das plataformas em que no nosso país se abrem portas ao que esta empresa considera um “modelo de ouro” mas que é “o pesadelo dos trabalhadores” e as alterações climáticas e os fogos, setor onde o governo “não investiu um tostão” nas medidas necessárias mas onde é precisa “ação concreta” porque “as nossas vidas não são um projeto piloto”.

Perante uma plateia composta de pessoas provenientes de diferentes pontos da Europa, a coordenadora do Bloco sublinhou que, apesar das diferenças, há uma “posição inequívoca da esquerda europeia a condenar a invasão à Ucrânia. E essa é uma voz forte da esquerda europeia que acredita na soberania e na auto-determinação dos povos”.

Catarina Martins trouxe à baila o acordo da Nato com a Turquia “para esquecer os direitos dos curdos” e sublinhou que “a Nato não é uma resposta de segurança, é sim uma ameaça à paz na Europa”. A organização “escolheu a ditadura de Erdogan e isso deve dizer-nos muito sobre o perigo que a Nato sempre foi e continua a ser”, realçou.

“O ouro da Uber é o pesadelo dos trabalhadores”

O segundo tema apresentado foi a crise da inflação, tendo mostrado Portugal como “um dos países com habitações mais caras da Europa”, onde “não se paga num supermercado menos do que se paga no resto da Europa”, em que “pelo combustível também pagamos bastante” mas “os salários são dos mais baixos da Europa”. A dirigente bloquista condenou o governo português, que “ao contrário de outros países em que se estão a discutir medidas como a atualização extraordinária dos salários à inflação, ou taxas sobre os lucros caídos do céu” continua “absolutamente inativo”.

O terceiro tema da sua intervenção foi a Uber, à boleia do escândalo em que se soube que esta empresa “utilizou todo o tipo de mentiras para entrar em todos os países, para tentar captar quotas de mercado, para desregular o trabalho e até para esconder os dados dos governos, apagando tudo, para que ninguém soubesse o que estavam a fazer”. Também aqui o executivo de António Costa destoa de muitos dos seus parceiros europeus, ao caminhar num sentido contrário da diretiva que se está a discutir no Parlamento Europeu “para obrigar a que as plataformas tenham contratos de trabalho diretamente com quem trabalha para elas”. Pelo contrário, em Portugal o Governo “passa uma lei para dizer que o contrato não tem de ser com a Uber ou com a Glovo, pode ser com um intermediário”, um modelo que é considerado “uma espécie de distopia liberal que acaba com o salário e com a Segurança Social” e que “se começar em Portugal, porque ainda em nenhum país isto foi considerado, pode estender-se a todos os países”. A Uber, recordou, chamou a este modelo "modelo de ouro" mas “o ouro da Uber é o pesadelo dos trabalhadores”.

Governo "não investiu um tostão" para aplicar recomendações dos especialistas após a tragédia de 2017

Um quarto tema de destaque foi a crise climática num momento em que o país tem dois terços do seu território em seca, um terço do qual em seca severa e em que está sob o risco máximo de incêndios.

Depois dos incêndios “trágicos” de 2017, o Bloco de Esquerda “empenhou-se profundamente para que estas tragédias não se possam repetir”. Nos últimos anos, “as promessas sucederam-se”. Apesar de se ter conseguido mudar a lei no Parlamento para limitar a área do eucalipto, para que existissem unidades de gestão florestal “que pudessem apoiar pequenos proprietários que se juntam para puderem investir nas suas terras”, de se terem criado “observatórios e grupos de trabalho para saber como é que íamos reflorestar as áreas que arderam”, concluído que “era preciso outro território, sapadores florestais, carreiras para as pessoas que trabalham na floresta e contratar mais pessoas para esse trabalho”, a verdade é que nestes cinco anos "pouco ou nada foi feito e essa é a grande tragédia do dia de hoje”.

Catarina Martins juntou-se ao apelo do primeiro-ministro a toda a população “para ter o máximo de cuidado para prevenir incêndios” mas ressalvou que não se pode “esquecer a responsabilidade do governo que depois de observatórios, estudos e relatórios, depois mesmo da lei, na realidade não investiu um tostão nem para as unidades de gestão florestal, nem para dar carreiras aos sapadores florestais, nem para reflorestar o que já tinha ardido e onde os eucaliptos cresceram sem que ninguém fizesse nada”. Para a coordenadora do Bloco, “as alterações climáticas exigem ação dos governos” e é “preciso agir já” dado que “não podemos continuar com observatórios, estudos e programas piloto porque as nossas vidas não são um projeto piloto e o nosso país não é um relatório”.

A porta-voz do partido quis ainda deixar a nota que “o governo português é de tal forma incapaz para responder às alterações climáticas que até a Comissão Europeia, que não é conhecida por ter uma política muito progressista, veio dizer que a forma como estão pensados os fundos da PAC tem de ser mudada porque não cumprem critérios ecológicos mínimos”.

Um conjunto de preocupações nacionais a que juntou ainda a certeza de que “a esquerda verde e vermelha, a esquerda da justiça climática é aquela que dará resposta aos povos” e que é esta "onda anti-conservadora, feminista que luta pelos direitos por inteiro e que será capaz do combate anti-patriarcal e anticapitalista que irá desenhar o futuro”.

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