Entrevistado na quarta-feira à noite no canal Franceinfo, o candidato do Novo Partido Anticapitalista (NPA) referiu-se ao problema da violência policial em França para afirmar que “a polícia mata” e que “uma quinzena de jovens são mortos pela polícia anualmente” nos bairros populares.
"Sim, há violência policial. A polícia mata, e depois podemos discutir: assassinato, homicídio, acidente, engano ou autodefesa. Sabemos isso e vemos isso. Se você for um manifestante, não está protegido pela polícia, é atacado e agredido. [...] A polícia mata, mas a polícia em particular mutila. Quantas mãos foram arrancadas, quantos rostos ficaram desfigurados, quantas pessoas foram detidas quando não fizeram nada?”, questionou Phillipe Poutou na entrevista.
"Il y a une véritable violence policière. Et il y a une police qui peut tuer car elle est armée, surarmée, et elle est dangereuse." pic.twitter.com/FpVFFMRuvj
— Philippe Poutou (@PhilippePoutou) October 14, 2021
A reação não se fez esperar por parte dos sindicatos da polícia. "Se o Sr. Poutou decidiu lançar a sua campanha presidencial criando um burburinho em torno de declarações abjetas sobre a polícia, em vez de se encontrar com os eleitores, ele terá um encontro com a justiça”, ameaçou Stanislas Gaudon, dirigente do sindicato Alliance, acusando Poutou de “sempre ter tido esta espécie de dogma anti-polícia”, a propósito das suas críticas ao excesso de armamento das patrulhas policiais.
O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou na quinta-feira que apresentará queixa contra o candidato presidencial, considerando as suas declarações “insultuosas e indignas de um eleito da República”.
Em resposta, Philipe Poutou, que foi candidato nas duas últimas eleições presidenciais e tenta agora recolher os apoios de eleitos locais que lhe permitam uma terceira candidatura no próximo ano, acusou Darmanin de vir “dar luz verde à polícia para bater”.
"Existe uma vontade política por parte do Governo de bater, de bater nos manifestantes, de bater nos jovens dos bairros, porque existe uma vontade política de desviar o problema" e evitar falar de "desemprego e miséria”, sublinhou Philippe Poutou em declarações à BFM-TV.
Para o candidato, esta queixa judicial por parte do ministro levanta “um problema democrático”. “A questão que se coloca agora é: será que podemos criticar a polícia? Será que podemos criticar a repressão? Será que podemos ter um ponto de vista diferente do Governo e dos sindicatos da polícia?”, pergunta o também conselheiro municipal de Bordéus.
Declarações do ministro são "insulto à memória de todas as vítimas de violência policial"
Em comunicado, o NPA reagiu à ameaça do ministro, considerando-a “mais uma tentativa de intimidação por parte de sindicatos de extrema-direita e de um ministro que recebe ordens deles, que visa silenciar todos aqueles que denunciam os crimes e a violência policial”. Para o partido, essa postura é “consistente com a recusa de reconhecer como crime de Estado o massacre de centenas de argelinos pela polícia francesa a 17 de Outubro de 1961, cujo 60º aniversário será comemorado dentro de dias”.
O NPA argumenta que dizer que “a polícia mata” apenas relata factos e denuncia uma instituição e não os agentes individualmente. Pelo contrário, aponta que os comentários do ministro Darmanin “são de facto um insulto à memória de todas as vítimas de violência policial, cuja lista seria demasiado longa para aqui enunciar, e um insulto aos seus familiares”.