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Governo Bolsonaro censura memória da cultura negra

O presidente da Fundação Palmares, instituição que devia zelar pela herança cultural negra no Brasil, mandou apagar várias biografias da página de internet da instituição.
Zumbi dos Palmares.
Zumbi dos Palmares.

Foi o jornal Folha de São Paulo quem deu o primeiro alerta. As biografias de várias personalidades negras tinham desaparecido da página de internet da Fundação Palmares, uma instituição criada para preservar a herança cultural negra no país.

As vidas de Luiz Gama, André Rebouças, do movimento abolicionista da escravatura, da escritora Carolina de Jesus e mesmo de Zumbi dos Palmares, uma das figuras mais destacadas da luta contra a escravatura no século XVII, deixaram de poder ser conhecidas a partir desta via. Ironicamente, o próprio nome da instituição nasceu devido a Zumbi dos Palmares.

O presidente da instituição, Sergio Camargo, foi nomeado em novembro pelo governo de Bolsonaro. Na data da comemoração da abolição da escravatura no Brasil, 13 de maio, tratou de fazer publicar na página da Fundação vários artigos que tinha encomendado e que atacavam Zumbi dos Palmares como “Zumbi foi um herói?”, de Mayalu Felix, e “Zumbi e a Consciência Negra – Existem de verdade?”, de Luiz Gustavo dos Santos Chrispino. A Justiça brasileira acabou por determinar que os artigos fossem retirados da página porque violavam o propósito do órgão público que as publicou, procurando “negar ao povo negro a sua história e seus heróis, como é o caso de Zumbi”.

Para além disso, é conhecido por negar a existência de racismo estrutural e por defender, por exemplo, que a escravatura foi “terrível” mas “benéfica” a longo prazo para os afrodescendentes, por classificar o movimento negro do seu país como “conjunto de escravos ideológicos da esquerda” e “escória maldita”.

Ao jornal brasileiro, trabalhadores da Fundação Palmares garantem que Camargo deu a ordem para as biografias desaparecerem. Este respondeu no Twitter, onde se descreve como “Negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto”, que determinou “a retirada de lista de personalidades que homenageia [a Fundação Palmares], entre outros, Benedita da Silva e Marielle, ícones da esquerda vitimista.” A acrescenta que “"Personalidades negras" destituídas de mérito e nobreza não serão homenageadas na minha gestão”. E acrescentou que “políticos da esquerda não são lideranças, são escravizadores de mentes.” Contudo, informou também a Folha de São Paulo, “também desapareceram artigos sobre personalidades negras de destaque no esporte do país”.

A revisão da história do Brasil é um dos eixos importantes para a chamada “ala ideológica do governo”. Tanto que o novo Secretário da Cultura do governo fez questão, no primeiro dia no cargo depois de ter sido nomeado sucessor de Regina Duarte, de receber Camargo e de publicar uma foto com ele.

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