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Google já tem acesso a milhões de dados clínicos

O gigante da internet fez um acordo com a Ascension, o maior sistema de saúde sem fins lucrativos nos Estados Unidos. Sem o conhecimento dos médicos ou dos doentes, os seus dados clínicos passam a estar na posse da Google.
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Foto ShyCityNXR/Flickr

Ao fim de meses de especulação, a Google confirmou finalmente o que está por destrás do seu “Projeto Rouxinol”, um acordo com um dos maiores fornecedores de serviços de saúde norte-americanos, que dará à empresa dados sobre resultados laboratoriais, diagnósticos ou registos hospitalares. Estes dados, em conjunto com o nome e a data de nascimento dos doentes, tornarão a Google detentora do historial clínico de milhões de pessoas.

O acesso aos dados é feito por mais de uma centena de funcionários da Google e o historial da empresa em matéria de violação da privacidade está a levantar suspeitas de que esses dados já possam ter sido descarregados por algum desses funcionários da Google.  

A Ascension é considerado o maior grupo católico de saúde dos EUA, com 150 hospitais abertos em 21 estados norte-americanos. A Google tinha revelado o acordo na sua apresentação de contas em julho, mas os detalhes só foram conhecidos esta semana, após a publicação de uma notícia no Wall Street Journal.

O apetite dos gigantes tecnológicos de Sillicon Valley pelo bilionário mercado da saúde nos EUA tem vindo a reforçar-se com a criação de aplicações e gadgets e também com parcerias entre empresas como a Amazon, Apple ou Microsoft e grupos de saúde.

Um dos objetivos deste “Projeto Rouxinol” é desenvolver através de inteligência artificial uma forma de conseguir prever doenças  através da análise do historial clínico.

A Ascension veio esta semana a público para defender que a parceria cumpre a lei no que toca à gestão de dados e que a Google não os poderá usar para outros fins para além de fornecer serviços ao grupo de saúde. Mas recusou-se a responder à questão de quantos doentes já viram os seus dados transferidos para os servidores da Google.

A Google já tem processos em tribunal por causa de dados clínicos. Por exemplo, numa parceria feita em 2017 com o Centro Médico da Universidade de Chicago, centenas de milhares de dados clínicos foram partilhados sem antes serem “limpos” das datas ou dos apontamentos dos médicos. Os autores do processo alegam que a Google pode cruzar as datas com outra informação de que já dispõe, como os dados de localização dos telemóveis, para chegar à identidade dos doentes. Na resposta, a empresa alegou que a lei só obriga a “limpar” os nomes ou os números da Segurança Social que permitem a identificação dos doentes.

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