You are here

Galiza e País Basco: a esquerda que resistiu ao avanço eleitoral da direita

Numa noite em que o PP se lançou ao assalto do governo, a extrema-direita se consolidou e o PSOE, Podemos e outras forças de esquerda sofreram derrotas significativas que redundaram na antecipação das legislativas, o mapa eleitoral confirmou duas exceções.
Ana Pontón e Goretti Sanmartín celebram vitória. Foto do BNG.

Uma “onda azul” varreu Espanha na passada noite de domingo. As eleições regionais e autárquicas ficaram marcadas por uma vitória clara do PP, uma consolidação do Vox que o coloca como provável parceiro de coligação daquele em muitas localidades e derrotas de graus diferentes de vários dos projetos políticos de esquerda que levaram o primeiro-ministro Pedro Sánchez a antecipar as eleições legislativas para 23 de julho.

Mas o descalabro da esquerda teve exceções: na Galiza o BNG e no País Basco o EH Bildu.

A Xunta ficou mais perto

Os resultados autárquicos do Bloco Nacionalista Galego dão um sinal positivo para as eleições autonómicas do verão do próximo ano. Em 2020, o partido já se tinha colocado como a principal força de esquerda, ultrapassando os socialistas. Entretanto, a figura mais destacada da direita na Galiza, Alberto Feijóo, está fora de jogo por ter passado a ser candidato a primeiro-ministro pelo Partido Popular. Agora, as autárquicas confirmam que Ana Pontón é a candidata mais bem colocada para acabar com a tradicional hegemonia da direita, com o Partido Socialista da Galiza a perder 90.000 votos e 171 eleitos locais e com o BNG a ganhar 134, aumentando o número de vereadores eleitos em 30%, e ultrapassando os 250.000 votos.

E foi isto que ela fez questão de sublinhar no discurso da noite de domingo: “confirma-se a mudança de ciclo que se abriu com as passadas eleições galegas nas quais os cidadãos deram ao BNG a responsabilidade de ser a alternativa real ao PP e esta jornada eleitoral reforça a nossa posição”. Promete-se agora “trabalhar sem descanso” para em 2024 “fazer história”.

Ainda assim, o PP obteve o maior soma total de votos. Mas a esquerda fica à frente de cinco das sete grandes cidades. O PP só ganha em Ferrol e o populismo de direita da Democracia Ourensá ganha Ourense, apesar do escândalo dos áudios em que o seu líder surgia a dizer que sabia como branquear dinheiro, mas precisa dos populares para conseguir governar.

Vitória histórica em Santiago de Compostela

A grande vitória do BNG é Santiago de Compostela, onde Goretti Sanmartín surpreendeu triplicando o número de eleitos de dois para seis. Não terá maioria absoluta mas espera-se que governe somando forças com o PS da Galiza/PSOE. Tornar-se-á assim a primeira presidente da capital galega eleita pelo partido.

Em Pontevedra, Miguel Anxo Fernández Lores deverá ser reeleito. Aqui não há novidade, já que governa a cidade há 24 anos. Também aqui a perspetiva é unir os nove vereadores do BNG, menos dois do que anteriormente, com os cinco dos socialistas.

Apesar dos recuos, o PSOE mantém Vigo há 16 anos. Já o BNG triplica os resultados. Na Corunha a dirigente socialista Inés Rey consegue reeleger-se e até aumentar dois vereadores, de nove para onze, precisando dos quatro do BNG, que duplica a representação, para ultrapassar os 12 do PP. E em Lugo o mesmo cenário: Lara Méndez, que conseguiu oito vereadores, terá de revalidar o acordo com Rubén Arroxo do BNG, que obteve cinco, duplicando também os resultados, para ficar à frente do PP que teve 12.

Noutros pontos da Galiza, destaque ainda para a vitória esmagadora em Carballo com maioria absoluta de treze vereadores, mais um do que anteriormente, ou para a vitória de Félix Juncal em Bueu, aqui sem maioria absoluta. Nos concelhos mais pequenos, claro, nem tudo foram bons resultados, registando-se duas derrotas em Ribadeo e Poio.

País Basco: EH Bildu uma maré contra todos os ataques

Euskadi foi o segundo grande ponto eleitoral da noite deste domingo em que houve notas de esperança à esquerda e expressões de surpresa mediática. O EH Bildu obteve um resultado francamente positivo depois de toda uma campanha centrada em ataques ao facto de alguns dos candidatos autárquicos da coligação de esquerda basca terem sido condenados por crimes de sangue no âmbito da militância na ETA.

Arnaldo Otegi, o porta-voz desta formação política, denunciou na altura uma “campanha de assédio” depois de ser conhecida a renúncia de vários destes candidatos em assumir os cargos para que fossem eleitos. O EH Bildu garantiu que todos os seus “quase 4.500 candidatos e candidatas” subscrevem o compromisso de ação “exclusivamente pacífica e democrática”, que está comprometido com a superação do “anterior enfrentamento”, aspira a “um futuro de paz e liberdade para o povo basco” e procurou centrar a sua agenda de campanha na defesa da agenda social e no reforço dos serviços públicos.

Assim, não se esperaria que o PNV, o partido nacionalista basco de direita, tivesse ficado à frente no total de votos no País Basco apenas por muito pouco: o partido da direita basca teve 322.000 votos (31%) menos 80.000 votos do que nas eleições anteriores, seguido de perto pelos 297.000 (29%) do EH Bildu. Ou que perdesse na eleição de vereadores (por 981 a 1.050). Também aqui se está a um ano das eleições autonómicas e o desgaste na votação do PNV é notório. Otegi chamou a esta dinâmica de votos uma “maré” que sobe aos poucos.

EH Bildu em campanha. Foto da página deste grupo político. 

Vitória em Vitoria e para além dela

Tal como as vitórias da esquerda galega, também algumas das dos independentistas bascos foram classificadas como “históricas”, nomeadamente a de Vitoria-Gasteiz. Aí, Rocío Vitero ficou à frente do candidato socialista por uns meros mil votos. O PNV, que detinha a presidência da autaruia, baixou para o quarto lugar e até foi ultrapassado pelo PP. É possível que a atual coligação entre o PNV e PS de Euskadi se mantenha, trocada a relação de forças. Fica em aberto o papel do PP que, aliás, já se tinha comprometido a fazer o que fosse possível para impedir o EH Bildu de liderar a autarquia.

Assinalável foi também a vitória por vantagem confortável em Gipuzkoa. Maddalen Okiñena não consegue uma maioria absoluta mas consegue mais cinco lugares do que o PNV e apesar do aumento da abstenção sobe perto de 4.000 votos, em contraste com os 25.000 que a direita nacionalista perde.

Em Donostia, conseguiu empatar com o mesmo número de vereadores eleitos e apenas 900 votos a menos. Mas aqui o PNV estava já a governar aliado com o PSE e deverá manter esse acordo, com os socialistas a ganharem mais um lugar.

Em Bilbau, onde o PNV sempre venceu desde o período da “transição democrática”, perdeu dois vereadores (ficando com 12), o mesmo número que o EH Bildu ganhou, passando a ter seis e ganhando o estatuto de segundo partido mais votado. O PSE mantêm os cinco que já tinha, o PP ganha um, passando a quatro, a esquerda do Elkarrekin passa de três para dois. Aliás, essa coligação que junta Podemos, Esquerda Unida, Berdeak Equo e Aliança Verde continua em trajetória descendente e já muito longe das legislativas de 2015 e 2016 quando tinha vencido no País Basco.

Bloco saúda BNG e EH Bildu

O Bloco de Esquerda enviou esta segunda-feira mensagens de felicitações às direções do Bloco Nacionalista Galego e Euskal Herria Bildu pelos respetivos resultados nas eleições de domingo.

“A presença da esquerda na governação de cidades e vilas cria espaços de maior liberdade e justiça social a nível local, estruturando uma base para a esperança de transformações sociais mais amplas", sublinha a mensagem assinada pela nova coordenadora bloquista Mariana Mortágua.

Termos relacionados Espanha, Euskadi, Galiza, Internacional
(...)