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"Fuck the EU": escuta revela estratégia dos EUA na crise da Ucrânia

A divulgação de uma chamada telefónica entre uma responsável pela diplomacia dos EUA e o seu embaixador em Kiev durante as negociações falhadas para a participação da oposição ucraniana no Governo conseguiu irritar Berlim e ao mesmo tempo revelar o jogo de marionetas das várias potências nesta crise.
Os dois protagonistas da conversa que revelou a mão de Washington a mover peças na crise da Ucrânia. Foto da embaixada norte-americana em Kiev/Flickr

Enquanto na praça Maidan os manifestantes lutam pelo que consideram ser “a democracia”, os seus dirigentes são movimentados nos bastidores por “um jogo” de interesses revelado por um vídeo que regista a conversa entre a subscretária de Estado norte-americana Victoria Nuland e o embaixador dos Estados Unidos em Kiev, Geoffrey Pyatt. Trata-se de traçar a estratégia norte-americana de tomar o poder na Ucrânia contra o presidente Ianukovitch e também contra a União Europeia, servindo-se da NATO e da ONU.

O vídeo é autêntico, como admitem os próprios envolvidos. Victoria Nuland, a neo-conservadora que transitou de conselheira do vice-presidente de Bush, Dick Cheney, para subsecretária de Kerry e Obama, acusou os serviços secretos russos de a espiarem e de lhe registarem a conversa, demonstrando que os métodos aplicados em todo o mundo pela NSA a incomodam quando se aplicam à própria. E por o vídeo ser autêntico, Nuland sentiu-se na necessidade de pedir desculpas à União Europeia, não tanto pelo conteúdo da estratégia que visa marginalizar Bruxelas das decisões na Ucrânia mas pelo léxico utilizado, uma vez que a Srª subsecretária explica como se deve “to fuck the EU”.

“Iatseniouk é o gajo”, recomenda a Srª Nuland, subsecretária de Obama para a Europa e a Euroásia, ao seu embaixador Pyatt. Arseni Iatseniouk é o chefe parlamentar do partido da Srª Tymochenko, a líder da chamada “revolução laranja” e que cumpre pena de prisão por comprovada alta corrupção, alguma dela com extensão nos Estados Unidos.

Para Iatseniouk ser “o gajo”, recorrendo à expressão da Srª Nuland, e uma vez que, segundo o embaixador Pyatt, o boxeur Klistschko “é o cão dominante” em cena, é preciso que este, o favorito da Srª Merkel e da União Europeia, não tenha funções num governo de oposição, o mesmo devendo acontecer com o neofascista Oleg Tyahnybok, do Svoboda, que apesar de manobrar grande parte das manifestações não assegura as recomendações “democráticas”.

A conversa telefónica entre os dois responsáveis norte-americanos decorreu na última semana de Janeiro, quando a oposição negociava um governo, a convite do presidente Ianukovitch. Iatsenouk era apontado como primeiro ministro e Vladimir Klitschko como vice-primeiro ministro. As negociações fracassaram dias depois.

A Srª Nuland opôs-se a que Klitschko fosse vice-primeiro ministro ou mesmo entrasse no governo. Do que “Yats” – o diminutivo aplicado pela subsecretária em relação a Iatsenouk - precisa é que Klitschko e Tyahnybok “fiquem de fora e que nós conversemos com ele quatro vezes por semana”.

O telefonema revela ainda o papel desempenhado por Jeff Feltman, diplomata norte-americano transformado em secretário geral adjunto da ONU, para conseguir nomear como enviado desta organização para a Ucrânia o holandês Robert Serry, ex-chefe de operações da NATO. “Isto será formidável”, confessou a Srª Nuland. E acrescentou: “Penso que isso ajudará a consolidar este projecto, a ter o apoio da ONU para o consolidar e, como sabe, a ‘to fuck’ a União Europeia”.

Enquanto os manifestantes continuam na Praça Maidan, enquanto a Srª Tymochenko, da cadeia, os incita a saírem às ruas em todo o país, um curto vídeo ajuda a perceber o quem é quem na Ucrânia e o que ali se joga – com risco de reeditar uma situação comparável à da antiga Jugoslávia.


Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu.

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