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Fórum Mundial da Água escondeu tensões sobre crise hídrica

A iniciativa realizada entre 17 a 23 de março em Brasília contou com cem mil participantes nas suas iniciativas. Mas o caminho rumo à segurança hídrica ainda é um sonho distante. Artigo de Reinaldo Canto.
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA

O sucesso propriamente dito do evento em si, com ampla participação e importantes trocas de experiências e informações, não pode servir de referência quando o que mais interessa, efetivamente, é a busca do acesso universal à água para todos os habitantes do planeta.

Foram seis dias intensos de trocas de informações. Ao fim de pelo menos 300 mesas de discussões e debates, exposições, manifestações e a participação de quase 100 mil pessoas, o Fórum Mundial da Água despede-se do Brasil rumo ao Senegal-2021.

O que ficou patente nesta edição do Fórum foi que o caminho rumo à segurança hídrica ainda é um sonho distante e tende a piorar ainda mais antes de começar a reverter esse quadro.

Mesmo com os bons exemplos apresentados como a reutilização de água de esgoto na agricultura em Israel; o trabalho de transparência e governança exercido pela Fundação Renova no Rio Doce e grandes empresas que têm reduzido muito o uso de água nos seus processos produtivos, para referir apenas alguns casos, a situação planetária como um todo é bastante preocupante.

Encerramento faz apelos por maior envolvimento e revela boas intenções para o futuro

Um documento assinado pelos mais de 100 países, cujo título já revela a dimensão do problema: “Apelo urgente para uma ação decisiva sobre a água”, faz um apelo de urgência para que as nações tomem medidas mais concretas para enfrentar questões como o do fornecimento de água e da universalização do saneamento básico.

Foi sublinhada a necessidade de aumentar os esforços para enfrentar as mudanças climáticas e alcançar o que prevê os ODSs – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, entre eles o acesso universal à água de boa qualidade para todos.

Entre os pontos destacados no documento final estão procurar fortalecer políticas e planos nacionais de gestão dos recursos hídricos; restaurar os ecossistemas que contribuem para o fornecimento de água e uma participação efetiva das empresas privadas para procurarem cada vez mais a sustentabilidade no uso da água em conformidade com os planos nacionais existentes. A transferência voluntária de tecnologias, bem como o estabelecimento de financiamentos que contribuam para a eficiência no uso dos recursos e o seu tratamento; formação profissional e o investimento em educação foram outros pontos levantados pelas delegações oficiais.

As Nações Unidas divulgaram durante a realização do Fórum Mundial da Água o documento intitulado Relatório sobre situação dos Recursos Hídricos no planeta.

O documento afirma que a crescente procura mundial por água, seja por aumento populacional, seja pelo desenvolvimento económico ou mudanças no padrão de consumo, exige ações urgentes, principalmente no que se refere à recuperação e preservação dos ecossistemas.

Muitos países já enfrentam situações críticas de escassez hídrica e o problema tende a se intensificar. Atualmente a procura mundial está em torno de 4.600 km cúbicos por ano e a ONU calcula que esse consumo irá aumentar de 20% a 30%, atingindo um volume entre 5.500 e 6 mil quilómetros cúbicos até 2050. Na produção agrícola e energética (sobretudo alimentos e eletricidade) o crescimento deverá ser ainda maior, entre 60% e 80%, respetivamente, já em 2025.

Nos próximos três longos anos até o Fórum no Senegal (Dakar/2021) a sociedade global terá de se debruçar sobre as conclusões de Brasília e redobrar os seus esforços para que o problema não se torne ainda mais alarmante e perigoso para ser debatido no próximo encontro.


Artigo publicado no portal Envolverde

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