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Forte mobilização em Setúbal, do Ministério “não houve respostas” aos professores

No dia em que a greve rotativa por distritos convocada por nove sindicatos de professores chegou a Setúbal, muitas das atenções se voltaram para Lisboa por causa da ronda negocial marcada para o Ministério da Educação e da concentração de professores à sua porta.
No final desta reunião, o dirigente da Fenprof disse à imprensa reunida no local que “não saiu nada” dela e que, por exemplo, “no tempo de serviço a proposta” do governo “é zero”, para além de haver discordância total na questão do Conselho Local de Diretores “do qual o Ministério não abdica”. Com este modelo de contratação “alguns professores deixam de estar limitados ao seu concelho para poderem ficar colocados num número alargado de concelhos”, esclarece. Mário Nogueira declarou ainda que “o Ministério parece querer acordozinhos” não pretendendo resolver os problemas centrais que lhe são colocados.
André Pestana, o coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação, confirmou que o governo “está a disparar ao lado do que é essencial” e destaca a “grande revolta de quem trabalha nas escolas”. Pensa igualmente que “se este Governo gastou 120 mil milhões de euros para tapar buracos, é porque há dinheiro” e alega que o “sentimento” dos professores é de recusa “que sejam assinados memorandos e acordos de má memória nas costas dos trabalhadores”.
Sem a presença do ministro, que preferiu estar no Conselho de Ministros, coube ao secretário de Estado da Educação, António Leite, receber os representantes dos 12 sindicatos numa mesa única de negociação. Mas a “maratona”, que começou de manhã e se prolongou até meio da tarde, terminou assim sem acordo.
Para a semana, haverá mais uma reunião destas, revela o secretário-geral da federação sindical. Entretanto, a luta continua. E o dia de hoje ficou marcado por uma adesão à greve na ordem dos 90%, de acordo com a Fenprof.
Para além disso, os professores de Setúbal fizeram uma concentração na capital de distrito, juntando centenas, enquanto outros rumaram à ação da capital. Na Praça do Bocage, uma das professoras que se manifestou explicava à RTP que o facto de terem destinos diferentes neste dia de luta não diminuía a força da mobilização porque permaneciam “todos juntos numa causa”.
À CNN Portugal, Rodrigo, um jovem que se mostrava solidário com os professores, acentuava que a luta destes é também uma luta das suas famílias. Filho de uma educadora de infância, relatou: “a minha mãe tem tido muitas dificuldades em ser colocada perto de casa”. Assim, “já cheguei ao ponto de ter de ficar longe da minha mãe durante um ano porque ela foi colocada no Algarve, numa altura complicada da minha vida, no momento que passei do 1º para o 2º ciclo. O meu irmão é mais pequeno e tive de me separar dele porque teve de ir com a minha mãe”. “Infelizmente, na minha família, existem vários gastos relacionados com a saúde e os meus pais não estão preparados para a minha mãe ser colocada longe novamente”, contou.
Houve ainda outros que preferiram concentrar-se à porta das suas escolas, como o caso dos professores de Sines que se juntaram na Escola Poeta Al Berto. À Rádio Sines um docente explicava as dificuldades que os professores deslocados têm em arrendar casa num concelho em que estas são particularmente caras e contava que na sua direção de turma há alunos que estão sem Matemática há vários meses. Por isso, garantia, não são as greves que prejudicam os alunos porque “o que está em causa são meses ou anos sem professores”. Sobre o processo de luta em curso insistia: “aqui estamos em luta à já quase dois meses e não vamos desistir”.
Este estado de espírito ressoava também à porta do Ministério da Educação onde se voltava a gritar “não paramos”. Aí, à CNN Portugal, uma trabalhadora técnica da educação acrescentava que estes profissionais têm vindo também às manifestações “porque queremos ter voz nas negociações”. Mas a esmagadora maioria dos que se manifestaram eram professores como Luís Elias, precário há 20 anos em escolas “do Minho ao Algarve” e o seu colega da escola Romeu Correia, Mário Berjano, que declarava à Lusa que “os professores sofrem calados há anos, agora chegou o momento e o ministro deu-nos uma ajuda”. Queria com isto dizer que as propostas para a contratação apresentadas por este resultaram como um toque a rebate nas escolas.
“Daqui a pouco o país não tem professores”
Presente também na concentração esteve a deputada bloquista Joana Mortágua, que criticou a ausência do ministro da Educação na reunião negocial desta quinta contrapondo que “o ministro devia estar em todos os momentos da negociação”.
Joana Mortágua reagiu às declarações da véspera do ministro das Finanças quando afirmou que “o país não tem só professores”. Para a deputada bloquista, “o recado do ministro das Finanças que nós vimos hoje nos jornais não dá boas indicações para aquilo que está a acontecer aqui dentro do Ministério”. “Fernando Medina vem dizer que o país não tem só professores, ignorando que o país daqui a pouco já não tem professores. O que vem dizer é que reconhecer direitos aos professores é hipotecar o futuro quando na verdade aquilo que hipoteca o futuro é desinvestir na escola pública a ponto de nós não termos professores daqui a cinco, dez anos”, analisa.
A dirigente partidária sublinha as preocupações com o “esvaziamento” da carreira docente e a necessidade de a tornar “atrativa” numa altura em que “os professores estão a sair da escola a um ritmo que a entrada de alunos no ensino superior não vai compensar”. Assim, “temos de conseguir ir buscar professores que saíram do sistema pela precariedade, por baixos salários, porque não conseguiam mais continuar a pagar para trabalhar com as deslocações, e para isso é preciso valorizar a carreira”, reforça.
Sobre o curso das negociações, Joana Mortágua considerava que “há da parte do Governo uma falta de vontade para negociar” e que ”isso não se prende apenas com a incapacidade de um ministro para chegar a acordo com os professores, tem também uma decisão de que a escola pública não merece investimento publico necessário para garantir o seu futuro”, estando em causa "o futuro da escola pública”.
Foi então que voltou a apontar baterias a Fernando Medina: “a falta de vontade para negociar que vinha do ministro anterior mantém-se” e “ainda não se percebeu se quem manda nas negociações é o ministro da Educação ou o ministro das Finanças”. Isto uma vez que “sempre que as negociações chegam a um ponto em que teriam necessariamente de avançar, o ministro das Finanças interveio para dar recados sobre aquilo que entende que deve ser negociação dos professores e esse recado é sempre contenção”. E é a escola pública que “vai sofrendo com essa contenção”, rematou.
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