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Exército britânico matou mais de 200 civis na guerra do Afeganistão

Os dados das “compensações” pagas a familiares das vítimas pelo Ministério da Defesa britânico mostra o baixo valor atribuído às vítimas afegãs e a inconsistência dos pagamentos. Muitas vezes a vida humana valeu menos que a propriedade. Investigadores recusaram responsabilizar-se por outras 881 mortes atribuídas aos britânicos.
Soldado britânico no Afeganistão. Foto de Defense Images/Flickr.
Soldado britânico no Afeganistão. Foto de Defense Images/Flickr.

São números oficiais do Ministério da Defesa mas dizem apenas respeito às “compensações” pagas aos familiares das vítimas entre 2006 e 2013. A organização não-governamental Action on Armed Violence contabiliza nesse período um total de 289 civis mortos devido à ação do exército britânico durante a sua intervenção militar no Afeganistão. 86 entre estes serão menores.

Estas mortes resultaram de 189 “incidentes”, a maioria na província de Helmand, mas a ONG clarifica que deverá haver muitas mais porque são apenas dados de acordos de compensação entre as partes e estes “não são um processo simples para os civis afegãos despoletarem”.

Num total, o Ministério da Defesa britânico pagou 688.000 libras de compensação, uma média de 2.380 libras por vítima e que está inflacionada porque também contabilizará estragos em propriedades e outros ferimentos causados por estas ações.

Ações do exército afegão ou norte-americano não surgem contabilizadas. Nem aquelas em que o governo britânico não aceitou a responsabilidade pelo sucedido. Os investigadores do Ministério da Defesa negaram responsabilidade em 881 mortes e 285 casos de ferimentos.

Nos documentos, não há detalhes das circunstâncias antes de março de 2009. Desconhecem-se assim dados como a idade ou o género dos cerca de cem civis vitimados neste período. Depois disso, há mais informações. Destaca-se um ataque de dezembro desse ano em que quatro crianças foram mortas, tendo o ministério da Defesa do Reino Unido pago 4.223,60 libras pelo caso, o qual nunca tinha chegado aos meios de comunicação social de língua inglesa. Nesse mesmo mês, uma criança de três anos foi morta por uma “explosão controlada”.

A ONG considera que os montantes pagos “foram altamente inconsistentes”. E alguns extremamente baixos: em dezembro de 2009, uma família recebeu 586,42 libras pela morte de uma criança de dez anos, em fevereiro de 2008 estragos numa propriedade e uma morte foram compensados com um pagamento de 104,17 libras. Registam-se vários casos em que danos em propriedades (destruição de colheitas, veículos ou edifícios) valeram mais do que as mortes acima mencionadas.

Segundo um relatório da ONU, entre 2007 e 2020, pelo menos 20.390 civis foram mortos ou feridos pelo exército afegão ou pelas forças internacionais. Apenas os ataques aéreos das forças militares dos EUA serão responsáveis, de acordo com a ONG Airwars, que utilizou dados das Nações Unidas e do The Nation, por 4.815 mortes de civis. O que se conhece do sistema de “compensações” que os EUA também implementaram, através de um relatório da Civic, é que entre outubro de 2005 e setembro de 2014 terá havido 1.630 “pagamentos de condolências”, em que se incluem indemnizações por morte, ferimentos e danos à propriedade. Entre 2003 e 2019, o exército dos EUA pagou pelo menos 38 milhões de dólares para estas finalidades.

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