A Evergrande alertou esta sexta-feira em comunicado que não terá recursos para “não há garantias de que o Grupo tenha fundos suficientes para continuar a cumprir as suas obrigações financeiras”. O grupo tem uma dívida acumulada que se calcula para cima de 310 mil milhões de dólares (cerca de 274 mil milhões de euros) dos quais 19 mil milhões serão obrigações a credores externos.
Com o mercado imobiliário chinês em crise, há vários meses que o calendário de serviço de dívida da construtora ultrapassou os seus recursos, tendo vindo a saltar de prazo em prazo até ao limite para garantir os pagamentos previstos. Agora, tem mais 260 milhões de euros para pagar e, segundo a empresa, não terá meios para o fazer.
A Evergrande não está sozinha no risco de incumprimento. Também, outro promotor imobiliário, o Kaisa Group Holdings Ltd., avisou que poderia falhar o reembolso de um empréstimo obrigacionista de 400 milhões de dólares na próxima semana. O Kaisa adiantou que tentou renegociar o pagamento, devido para quinta-feira, mas que muito poucos obrigacionistas concordaram com os termos avançados.
No passado dia 5 de outubro, outro promotor imobiliário de média dimensão, o Fantasia Holdings Group, anunciou que ia falhar um pagamento de 205,7 milhões de dólares devido a investidores obrigacionistas. Centenas de pequenos promotores imobiliários chineses têm ido à falência desde que os reguladores começaram a intensificar o controlo sobre as finanças do setor, em 2017.
Os reguladores chineses procuraram acalmar os investidores com a emissão de declarações em que asseguraram que o sistema financeiro chinês era forte e que as taxas de incumprimento eram baixas, garantindo que muitos promotores imobiliários são financeiramente saudáveis e que Pequim vai continuar a deixar funcionar os mercados de crédito.
“O risco de contágio dos eventos de risco do grupo no funcionamento estável do mercado de capitais é controlável”, afirmou a comissão reguladora do mercado de capitais chinesa.
A bolha imobiliária e as contradições dentro do regime
Pequim e o próprio Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, estão há vários meses envolvidos num complicado jogo de poder em torno das políticas a implementar para lidar com a bolha imobiliária no país.
Um imposto sobre propriedade entrou na discussão política dentro do Partido Comunista Chinês há mais de uma década, mas nada avançou até hoje, sempre devido a enorme resistência de diferentes grupos de influência a nível local e nacional, dependentes de um mercado imobiliário que se teme que colapse sob qualquer pressão.
Face à crescente bolha imobiliária na China, onde a Evergrande é apenas uma pequena parte do problema, Xi Jinping adotou oficialmente a proposta de um imposto sobre propriedade no início deste ano. Desde então, a proposta foi reduzida para implementação limitada a apenas 10 cidades.
A dívida interna e externa associada ao setor imobiliário na China está calculada em cinco biliões de dólares (trillions em inglês), dos quais apenas 300 mil milhões são da Evergrande. Face a isto, a proposta original de Xi Jinping poderá ser demasiado tímida para resolver o problema.