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Escritores, artistas e jornalistas sírios denunciam a política americana e russa

150 escritores, artistas e jornalistas denunciam a posição dos EUA e da Rússia e dizem que ela “subordina o combate emancipador dos sírios a uma pretensa 'guerra contra o terrorismo', que não conseguiu nenhuma vitória antiterrorista decisiva, mas que já destruiu vários países”.
"O mundo é hoje uma causa síria assim como a Síria é uma causa mundial" (manifesto de escritores artistas e jornalistas)
"O mundo é hoje uma causa síria assim como a Síria é uma causa mundial" (manifesto de escritores artistas e jornalistas)

Nós, abaixo assinados, escritores, artistas e jornalistas sírios, democratas e laicos, opositores há anos ou décadas do regime despótico dos Assad e comprometidos na luta pela democracia e pela justiça no nosso país, na nossa região e no mundo, denunciamos com a maior firmeza a posição das duas grandes potências, os Estados Unidos de América e a Rússia, sobre a questão síria. Uma posição que subordina o combate emancipador dos sírios a uma pretensa “guerra contra o terrorismo” que não conseguiu nenhuma vitória antiterrorista decisiva, mas que já destruiu vários países.

Há três anos, estas duas potências imperialistas assinaram um acordo indigno sobre as armas químicas na Síria. Este acordo correspondia aos seus interesses, bem como aos de Israel e sobretudo aos do regime de Assad que acabava de massacrar 1466 cidadãos utilizando este tipo de armas. Não tratava de forma alguma o problema sírio mas concedia ao regime o direito a prosseguir a sua obra de morte, destruição e deslocação da população.

Em nome do terrorismo

Era também um precioso presente oferecido às organizações islamistas nihilistas, como o Daesh e a Frente al-Nusra. E eis que, agora, depois de três anos deste mercado infame, e após a morte de cerca de meio milhão de sírios, os americanos e os russos põem-se novamente de acordo em congelar a situação com o pretexto falacioso da sua interminável guerra contra o terrorismo. Nenhuma palavra sobre os inúmeros presos políticos na Síria, em condições infernais. Também nenhuma sobre as cidades e bairros sitiados. Nenhuma palavra sobre a intervenção militar do Irão, do Hezbolah libanês e de outras milícias proiranianas. E nada, evidentemente, sobre as perspectivas de uma mudança democrática na Síria.

As duas potências parecem mesmo contemplar a participação da aviação do regime no bombardeamento de certas zonas que terão designado de comum acordo. Tudo isto não só denota a ausência de qualquer senso moral entre os dirigentes americanos e russos mas também a deficiência política dos dois países mais poderosos do mundo. Os acordos russo-americanos repugnam-nos e recusamo-los radicalmente. A cólera que nos inspiram estende-se à própria ONU que, como foi recentemente revelado, não deixou de financiar o regime de Assad, enquanto este prosseguia a sua guerra criminosa contra os sírios.

Um sistema ferozmente antidemocrático

Os escritores, artistas e jornalistas sírios subscritores desta declaração consideram que o mundo inteiro conhece uma crise moral de um novo tipo que agudiza os sentimentos de medo e de ódio, e beneficia os políticos que os exploram e defendem a deriva identitária.

Constatam que a democracia recua em toda a parte, dando lugar a regimes de controle, coerção e desconfiança. Isto não é uma fatalidade histórica, mas é a consequência de uma escolha perigosa de elites políticas perigosas que devemos estigmatizar vigorosamente agora e em qualquer lugar. A Síria falhada é o símbolo do mundo tal como é. A revolução síria despedaçou-se contra o muro do sistema mundial e não só contra o fascismo assadiano. Este sistema, que autoriza homens como Obama, Putin e os seus ajudantes a decidir à sua vontade sobre o nosso destino, enquanto indivíduos, grupos e nações, sem que tenham sido mandatados por ninguém e sem que haja meios de lhes pedir contas, é profunda e ferozmente antidemocrático. É necessário que mude.

No entanto, poucas pessoas parecem estar conscientes disso. Em geral prefere-se, sobretudo no Ocidente, esconder-se atrás de considerações fatalistas, atribuindo a profunda crise moral à religião ou à cultura (quando não às alterações climáticas!), o que apenas a exacerba ainda mais e oculta a responsabilidade esmagadora das elites que detêm o poder, entre as quais a camarilha de Bashar al-Assad. É preciso que mude este mundo que tem permitido o saque, durante mais de cinco anos, de um dos primeiros centros da civilização humana.

O mundo é hoje uma causa síria assim como a Síria é uma causa mundial. Para a salvação do mundo, por todos nós, apelamos à denúncia destes políticos, a que sejam condenados como criminosos terroristas e nihilistas, da mesma espécie que os seus adversário islamistas, terroristas e nihilistas.

Manifesto assinado por mais de 150 pessoas, entre as quais: Sadik Jalal al-Azm, filósofo; Yassin Al-Haj Saleh, escritor; Samar Yazbek, romancista; Mazen Darwish, jurista; Hala Alabdallah, cineasta; Racha Omran, poeta; Burhan Ghalioun, escritor professor em Paris III; Salam Kawakibi, investigador; Rosa Yassin Hassan, romancista; Hala Mohammad, poeta; Farouk Mardam Bey, editor; Ossama Mohammad, cineasta; Subhi Hadidi, escritor e jornalista; Faraj Bayrakdar, poeta; May Skaff, atriz; Fares Hélou, ator; Mohammad al-Attar, diretor de teatro; Assem Al-Bacha, escultor; Dima Wannous, romancista e jornalista; Nouri Jarrah, poeta; Omar Kaddour, romancista e jornalista; Rateb Shabo, escritor; Samih Choukaer, músico; Bakr Sidki, jornalista; Badreddin Arodaky, escritor e tradutor; Jihad Yaziji, economista; Khayri Alzahabi, escritor; Rustum Mahmoud, investigador; Yasser Munif, universitário.

Artigo publicado em liberation.fr, traduzido para espanhol, por Faustino Eguberri para vientosur.info e para português por Carlos Santos para esquerda.net

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