Erdogan quer expulsar embaixadores de dez países

23 de October 2021 - 18:44

Os embaixadores de países como Estados Unidos, França, Dinamarca e Alemanha são considerados personas non gratas por terem apoiado a libertação do filantropo Osman Kavala, crítico do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

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Foto Kremlin.ru, Wikimedia.

O Público avança que, em declarações ao Daily Sabah, Erdogan anunciou que solicitou ao chefe da sua diplomacia, Mevlut Cavusoglu, para declarar os dez embaixadores como persona non grata.

“Falei com o ministro dos Negócios Estrangeiros e disse-lhe: ‘Trate de imediato da declaração de estes dez embaixadores como personas no gratas’”, referiu o presidente turco. “O dia em que não conheçam nem entendam a Turquia, é altura de ir embora”, continuou.

O jornal diário aponta que os embaixadores dos Estados Unidos, França, Alemanha, Canadá, Finlândia, Países Baixos, Dinamarca, Nova Zelândia, Noruega e Suécia já foram convocados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Na perspetiva do vice-presidente turco, Fuat Oktay, os representantes diplomáticos, que assinaram uma declaração política a defender a libertação de Osman Kavala, “apesar de estarem obrigados a respeitar a independência dos países onde servem, excederam os seus limites e exigiram que [os políticos] interfiram com o poder judicial”.

Osman Kavala nunca foi condenado

O filantropo e ativista turco Osman Kavala nunca foi condenado por um crime, mas está na prisão há quase quatro anos.

A 17 de setembro, o Conselho da Europa advertiu o regime de Erdogan para que liberte o empresário de 64 anos, avisando que o processo de infração contra Ancara terá início no final de novembro, caso Kavala não fosse libertado até lá.

No entanto, a Turquia tem-se recusado a reconhecer a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) de 10 de dezembro de 2019, que declarou que a Convenção Europeia dos Direitos Humanos foi violada e, portanto, ordenou que Kavala fosse libertado imediatamente. O TEDH concluiu que a prisão de Kavala baseou-se em motivos políticos, sem qualquer evidência razoável a apoiar as acusações.

Em comunicado, os embaixadores dos dez países exortaram a Turquia a seguir as decisões do Conselho da Europa, um órgão de direitos humanos ao qual aderiu em 1950.

"Os atrasos contínuos no seu julgamento... lançam uma sombra sobre o respeito pela democracia , o Estado de Direito e a transparência no sistema judiciário turco", lê-se na missiva, citada pela Deutsche Welle.

Kavala é acusado de financiar os protestos em todo o país em 2013 e de estar envolvido numa tentativa de golpe em 2016.

O filantropo foi preso no final de 2017 sob as acusações de "tentativa de derrubar a ordem constitucional" e "tentativa de derrubar o governo". O processo estava relacionado com os protestos de 2013. Posteriormente, foi enviado para uma prisão de segurança máxima fora de Istambul.

Foi absolvido em fevereiro de 2020, mas foi alvo de um novo mandado de prisão poucas horas depois, desta vez sob a acusação de estar envolvido na tentativa de golpe de 15 de junho de 2016. Quase um mês depois, também foi ilibado dessa acusação, mas foi mantido em prisão preventiva sob a acusação de "espionagem política ou militar".

Em setembro de 2020, o gabinete do promotor público de Istambul preparou uma nova acusação, acusando Kavala de colaborar com Henri Barkey, um proeminente académico turco residente nos Estados Unidos, e de "ter participado da tentativa de golpe".

Em janeiro de 2021, a sua absolvição no julgamento do Parque Gezi foi revertida.

Na segunda audiência do julgamento por acusações de golpe e espionagem, realizada a 5 de fevereiro de 2021, o tribunal decidiu juntar este caso ao julgamento de Parque Gezi e ordenou que Kavala continuasse na prisão.

Em 28 de julho de 2021, o julgamento de Gezi foi fundido com o julgamento de Carsi, no qual 35 membros da claque de futebol Besiktas Carsi são acusados de "organizar um conluio contra o governo durante os protestos no Parque Gezi".

O tribunal marcou para 26 de novembro de 2021 a próxima audiência.

Organizações de direitos humanos em todo o mundo criticam veementemente a prisão de Kavala e defendem que se trata de uma perseguição política.

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