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“Erdogan está a fazer o seu próprio golpe de estado”

Novo decreto governamental fechou boa parte da imprensa curda e despediu mais de 10 mil funcionários. Autarca de Diyarbakir foi novamente presa e a cidade ficou sem internet. HDP promete resistir ao poder absoluto do presidente turco.
Firat Anli e Gültan Kışanak, os dois líderes da autarquia de Diyarbakir, foram presos pelo regime turco sob acusações de ligação ao terrorismo.

Dois decretos governamentais assinados a 29 de outubro ao abrigo do estado de emergência determinaram a expulsão de mais de 10 mil funcionários públicos das regiões de maioria curda, o encerramento de várias agências de notícias, jornais e revistas, o confisco da propriedade de autarcas eleitos, mais restrições nos já escassos direitos de defesa legal e o fim da eleição de reitores das universidades, que passam a ser nomeados pelo governo.

Em comunicado, o Partido Democrático do Povo (HDP, terceiro partido turco e maioritário entre a população curda) denunciou a tentativa do governo e do presidente Erdogan de “abafar a voz do povo curdo”, ao encerrar boa parte dos meios de comunicação. “Os últimos decretos são mais um passo para o estabelecimento de um “estado de obedientes”, um “estado unipartidário”, acusa este partido, que viu Gültan Kışanak e Firat Anli, respetivamente a presidente e o co-presidente de câmara de Diyarbakir, a maior cidade de maioria curda, presos pela segunda vez numa semana sob acusações de ligações ao PKK.

O HDP denuncia que ao abrigo deste estado de emergência – que se seguiu à tentativa de golpe de 15 de julho e foi prolongado para meados de janeiro –, “os direitos humanos e democráticos universais, muitos artigos da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e das Convenções das Nações Unidas estão a ser violados a cada dia e a cada minuto”.

“O governo Erdogan-AKP está a fazer o seu próprio golpe de estado”, acusa o HDP, acusando o presidente de se ter aproveitado da tentativa de golpe para transformar o regime de forma a “monopolizar toda a autoridade nas mãos de um homem”: o próprio Erdogan.

Cidades curdas com internet cortada

A primeira detenção da presidente da Câmara de Diyarbakir, cidade com 1.8 milhões de habitantes, coincidiu com o corte das ligações à internet nessa e em mais de uma dezena de cidades da região.

O corte no acesso à internet faz-se sentir sobretudo entre as 10h e as 19H, afirma o vice-presidente do HDP, Saruhan Oluç. O governo não fez nenhum anúncio sobre este bloqueio à informação e esse silêncio é a prova do “caráter ilegal” da medida que “viola acordos e convenções de que a Turquia é signstária”, prossegue a declaração deste dirigente da oposição na forma de carta aberta ao Facebook e ao Twitter. 

 

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