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“Entrevista de embaixador dos EUA é ingerência manifesta nos assuntos internos de Portugal”

Em declarações ao esquerda.net, José Manuel Pureza salienta ainda que o embaixador fez uma revelação “gravíssima”, a que “nem Marcelo Rebelo de Sousa nem Augusto Santos Silva” deram resposta, a de que o Departamento do Tesouro esteve em Portugal para "trabalhar com os reguladores".
José Manuel Pureza salienta que a “gravíssima revelação” do embaixador significa que “a regulação dita independente em áreas económicas fundamentais do país está, de facto, moldada ao sabor dos interesses norte-americanos”.
José Manuel Pureza salienta que a “gravíssima revelação” do embaixador significa que “a regulação dita independente em áreas económicas fundamentais do país está, de facto, moldada ao sabor dos interesses norte-americanos”.

O embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, George Glass, deu uma entrevista ao jornal Expresso deste sábado, 26 de setembro de 2020, que mereceu o título: “Portugal tem de escolher agora entre os aliados e os chineses”.

Em declarações ao esquerda.net, o deputado do Bloco de Esquerda e vice-presidente da Assembleia da República José Manuel Pureza afirma: "A entrevista do embaixador dos Estados Unidos ao Expresso exprime a assumida falta de vergonha da administração Trump na condução das suas relações com outros Estados. É uma ingerência manifesta nos assuntos internos do Estado português e isso é totalmente inaceitável”.

E acrescenta: “Mas é mais que isso: é uma ingerência exibida sem disfarce, em bruto, ao estilo de Trump, para exercer a pressão máxima sobre as autoridades portuguesas”.

José Manuel Pureza destaca também que “George Glass revela que delegações do Departamento do Tesouro estiveram em Portugal para "trabalhar com os reguladores", de modo a impedir o triunfo de empresas chinesas em mercados portugueses”.

“Esta gravíssima revelação significa que a regulação dita independente em áreas económicas fundamentais do país está, de facto, moldada ao sabor dos interesses norte-americanos”

“Esta gravíssima revelação significa que a regulação dita independente em áreas económicas fundamentais do país está, de facto, moldada ao sabor dos interesses norte-americanos”, considera o deputado do Bloco de Esquerda.

“O Presidente da República e o Governo disseram o que tinham que dizer, reclamando a autonomia de decisão própria de um Estado soberano”, diz José Manuel Pureza, considerando que “nem Marcelo Rebelo de Sousa nem Augusto Santos Silva deram resposta” à revelação de George Glass.

"ou há um urgente desmentido categórico, pelas autoridades portuguesas, de que assim tenha sido ou a sua reação terá sido pouco mais que uma formalidade que não apaga a complacência com uma insuportável ingerência americana nos assuntos internos de Portugal"

“Por isso, ou há um urgente desmentido categórico, pelas autoridades portuguesas, de que assim tenha sido ou a sua reação terá sido pouco mais que uma formalidade que não apaga a complacência com uma insuportável ingerência americana nos assuntos internos de Portugal", frisa José Manuel Pureza.

Na entrevista, questionado sobre se “Portugal não é duro o suficiente com a China”, George Glass afirma, como destaca o deputado bloquista: “Há três anos diria que sim. Entretanto, trabalhámos com os portugueses para olhar para investimentos estrangeiros e o Departamento do Tesouro a trabalhar aqui com os reguladores e com os comités de regulação europeia, para criar guidelines. Acho que agora são mais duros com a China”.

Em declarações à agência Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou: “O Governo português regista as declarações […]. Mas o ponto fundamental é este: em Portugal, quem toma as decisões são as autoridades portuguesas, que tomam as decisões que interessam a Portugal, no quadro da Constituição e da lei portuguesa e das competências que a lei atribui às diferentes às diferentes autoridades relevantes”.

A agência questionou o ministro se as declarações do embaixador dos EUA podem ser consideradas uma ingerência nos assuntos internos de Portugal, Santos Silva diz que não, refere-se à “profunda amizade que liga os dois países”, mas não desmente a suposta interferência do Departamento do Tesouro dos EUA junto dos reguladores

Marcelo Rebelo de Sousa declarou à Lusa que "em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representantes escolhidos pelos portugueses", mas também não se referiu as revelações de George Glass, sobre o “trabalho” do Departamento do Tesouro com os reguladores.

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