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Eleições na Suíça: "Avalancha verde" castiga extrema-direita

As eleições federais de domingo na Suíça mostraram uma invulgar vontade de mudança, num país cujo voto para a escolha do Parlamento se caracteriza pela previsibilidade.
Natalie Imboden e Regula Rytz, a líder dos Verdes suíços, reagem ao resultado eleitoral que fez o partido passar de 7% para 13% dos votos. Foto Peter Schneider/EPA

As eleições federais de domingo na Suíça mostraram uma invulgar vontade de mudança, num país cujo voto para a escolha do Parlamento se caracteriza pela previsibilidade, já que, há décadas que os mesmos quatro partidos detém o poder a nível nacional, de acordo com a chamada “fórmula mágica”, que garante a repartição entre eles dos sete lugares no Conselho Federal (o governo federal suíço).

Esse desejo de mudar traduziu-se numa verdadeira “avalancha verde”, que levou a um recuo das quatro principais forças políticas, em especial do Partido Popular Suíço (SVP/UDC), formação da extrema-direita populista, anti-imigração e islamofóbica.

Aquele partido voltou a ser o mais votado e continuará a ter a maior bancada no Conselho Nacional (a câmara baixa do Parlamento suíço), mas sofreu uma quebra significativa face aos resultados de 2015.

Para além da extrema-direita, também os social-democratas do SP/PS e os liberais do FDP/PLR recuaram face ao anterior ato eleitoral, embora de forma mais moderada. Por seu turno, os democrata-cristãos do CVP/PDC/PPD, o mais pequeno dos quatro, registaram apenas perdas ligeiras.

Os grandes vencedores foram, então, os dois partidos ecologistas: o Partido Verde da Suíça (SGP/PES), de esquerda, e o Partido Verde Liberal (GLP/PVL), centrista. Ambos registaram importantes ganhos, quase duplicando a sua votação e mais que duplicando a sua representação parlamentar. O primeiro ultrapassou mesmo os democrata-cristãos, tornando-se na quarta força política do país.

As preocupações face à crise climática, reforçadas com o protagonismo internacional da jovem ativista sueca Greta Thunberg, explicam, em grande parte, o reforço das duas forças políticas “verdes”.

Outras formações de direita conservadora, como o Partido Democrático-Cívico (BDP/PBD) e a União Democrática Federal (EDU/UDF), ou da extrema-direita populista, como a Liga do Ticino (LdT) ou o Movimento dos Cidadãos de Genève (MCG) sofreram perdas, com o último a ficar fora do Parlamento. O Partido Evangélico Suíço (EVP/PEV) foi a única força da direita a melhorar, e mesmo assim de forma ligeira, o seu resultado de há quatro anos.

Também a esquerda, com escasso apoio no país, viu ligeiramente reforçada a sua posição, com a coligação entre o Partido do Trabalho (PdA/PST-POP/PdL-POP) e o Solidariedades (SolidaritéS) a eleger um segundo deputado.

Com estes resultados, é previsível que a esquerda verde (SGP/PES) consiga um lugar no Conselho Federal, deixando os liberais apenas com um. A extrema-direita e os socialistas deverão manter os seus dois membros, enquanto os democrata-cristãos conservarão o lugar que detém atualmente.

Eis os resultados da eleição para o Conselho Nacional, comparados com os de 2015 (entre parêntesis, o número de mandatos):

PARTIDO RESULTADO (mandatos) 2015: RESULTADO (mandatos)
SVP/UDC (extrema-direita) 25,6 (53) 29,4 (65)
SP/PS (social-democrata) 16,8 (39) 18,8 (43)
FDP/PLR (liberal) 15,1 (29) 16,4 (33)
GPS/PES (esquerda verde) 13,2 (28) 7,1 (11)
CVP/PDC/PPD (democrata-cristãos) 11,4 (25) 11,6 (27)
GLP/PVL (verdes liberais) 7,8 (16) 4,6 (7)
BDP/PBD (conservador) 2,4 (3) 4,1 (7)
EVP/PEV (direita religiosa) 2,1 (3) 1,9  (2)
PdA/PST/PdL-Sol (esquerda) 1,0 (2) 0,9 (1)
EDU/UDF (nacional-conservador) 1,0 (1) 1,2 (0)
LdT (regionalista, extrema-direita) 0,8 (1) 1,0 (2)
MCG (regionalista, extrema-direita) 0,2 (0) 0,3 (1)
Outros 2,6 (0) 2,7 (1)

A afluência às urnas, tradicionalmente baixa, quedou-se pelos 45,1%, abaixo da de há quatro anos, quando se cifrou em 48,4%.

Esta fraca afluência nas eleições federais é vulgar na Suíça. Desde logo, porque a “fórmula mágica” leva a que as legislativas nacionais não levem a alterações significativas na composição do governo e, consequentemente, das políticas. Depois, porque os cantões dispõem de grande autonomia na maioria dos domínios e, por fim, pelo facto de as grandes decisões serem tomadas em referendos nacionais, periodicamente convocados.  

Sobre o/a autor(a)

Professor. Mestre em Geografia Humana e pós-graduado em Ciência Política. Aderente do Bloco de Esquerda em Coimbra
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