You are here

Editora Europa-América em insolvência

As Publicações Europa-América têm dois milhões de euros de dívida. Esta quinta-feira entrou uma ação no Tribunal de Sintra para declarar a insolvência da editora fundada por Lyon de Castro, oposicionista à ditadura de Salazar, que publicou 51 milhões de livros.
Uma das livrarias da Europa-América. Fotografia do facebook da empresa.
Uma das livrarias da Europa-América. Fotografia do facebook da empresa.

Durante décadas, as Publicações Europa-América alimentaram de livros o país. Aquela que foi uma das editoras mais bem sucedidas do país, apresenta assim números significativos do seu passado, reivindicando ter publicado mais de 51 milhões de livros e dado a conhecer o trabalho de 1900 autores.

Uma história que pode muito bem estar a assistir aos seus capítulos finais. Os números do presente já não refletem estas glórias passadas. A editora tem agora dois milhões de euros de dívidas a cerca de 50 credores e acumula prejuízos há já vários anos. Só o ano passado perdeu 480 mil euros. Por isso, foi apresentado esta quinta-feira um processo de insolvência no Tribunal de Sintra.

Face à realidade da empresa nos últimos anos, o pedido de insolvência não surpreenderá. Segundo o jornal Expresso, a empresa consta desde 2017 na lista dos devedores à Segurança Social e, nesse mesmo ano tinha sofrido três processos por dívida, o mais significativo sendo do Banco Santander no valor de 173 mil euros. Este ano foi a vez da Ibook entrar com uma ação de execução de dois mil euros.

Europa-América, uma história anti-fascista

O seu fundador não viveu para assistir a este desfecho daquele que foi o seu projeto de vida. Em 2004, Francisco Lyon de Castro morreu no posto de editor. Era então considerado o mais antigo editor no ativo.

Aos 31 anos, e no ano em que terminava a segunda guerra mundial, Lyon de Castro aventurou-se na criação das Publicações Europa-América. O nome da empresa é já de si todo um programa, acreditava-se, porque era uma referência à aliança que tinha derrotado o nazismo e o fascismo.

Em plena ditadura, Lyon de Castro atreveu-se a publicar autores perseguidos pelo regime como os portugueses Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol, ou que lhe era pouco caros como Gabriel Garcia Marquez e Jorge Amado.

Militante do PCP desde os seus 18 anos, fundou jornais operários e neles trabalhou, chegou a trabalhar na clandestinidade, a estar exilado e preso no Aljube, em Caxias, em Peniche e em Angra do Heroísmo. Na altura do pacto germano-soviético, Lyon de Castro corta com esse partido por não concordar que o “país da revolução possa entender-se com um criminoso confesso chamado Hitler”, mas permanecerá à esquerda.

Até fundar a sua editora sobreviveu a trabalhar numa pequena empresa de madeiras, foi aprendiz de alfaiate e colaborador em alguns jornais.

Quando libertado, viu recusada a sua readmissão na Imprensa Nacional e nos 5 anos seguintes trabalhou numa pequena empresa familiar de madeiras, foi aprendiz de alfaiate, organizou passagens de modelos e colaborou em jornais.

Depois de fundar a Europa-América e já fora de qualquer organização partidária, o seu trabalho de editor ainda o levou à prisão mais duas vezes por publicações consideradas subversivas. No Congresso da União Internacional de Editores, em Barcelona, em 1962, condena a censura imposta em Portugal. O mesmo volta a fazer três anos mais tarde quando essa mesma estrutura internacional reúne em Washington.

Até à revolução dos cravos, a sua editora é alvo de censura e perseguição mas sobrevive. Depois, foi o primeiro presidente eleito da Associação Portuguesa de Editores e da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas. Para além das Publicações Europa-América, ainda fundou a Editorial Inquérito, as Realizações Artis e a Lyon Edições.

Termos relacionados Sociedade
(...)