“Vemos doentes que nunca tínhamos visto, que desenvolvem patologia respiratória sem a terem antes e mantêm alguma inflamação pulmonar, detetável na função respiratória”, disse ao Expresso o diretor do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Carlos Robalo Cordeiro olha para os números que apontam que pelo menos 10% dos infetados desenvolvem sintomas da doença para além dos três meses da infeção.
No caso português, isso traduz-se em mais de cem mil pessoas. Mas um estudo da Universidade de Oxford, o maior feito até agora, indica que mais de um terço dos infetados continua com sintomas da doença entre os três e os seis meses após a infeção.
Para Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos, isto resultará “numa sobrecarga muito grande” para o SNS, quem tem de manter a sua atividade normal e recuperar o atraso no seguimento de doentes interrompido durante as primeiras fazes da pandemia. Até porque estes doentes com a chamada covid longa “estão a aparecer em catadupa”, alerta o médico, mesmo em casos em que a infeção desenvolveu apenas sintomas ligeiros.
Ainda segundo o Expresso, no caso do Centro Hospitalar de Leiria, os utentes atendidos nas consultas pós-covid são maioritariamente pessoas que tiveram doença “moderada a grave” e com média de 70 anos de idade.
Entre os mais de 200 sinais e sintomas da covid longa, tem-se destacado a falta de ar, o que eleva a pressão sobre as consultas de pneumologia, refere Filipe Froes. Mas a fadiga, fraqueza muscular, tosse crónica, dor de cabeça, alterações da frequência cardíaca, depressão, ansiedade, perturbações do sono e falta de concentração são outros sintomas associados às sequelas da infeção. No estudo da Universidade de Oxford, as dores de cabeça e musculares afetam sobretudo as mulheres e os mais jovens, a depressão e ansiedade surgem mais associadas às mulheres e as dificuldades respiratórias e de concentração aos homens.
Carlos Robalo Cordeiro e Filipe Froes sugerem a criação de estruturas dedicadas ao acompanhamento deste doentes, encaminhando os mais graves através de “vias verdes” e que a Direção Geral de Saúde crie um grupo de trabalho para uniformizar as normas e recomendações para o seguimento destes doentes.