Pela primeira vez, uma página na internet reúne os processos, um total de 564.269, que o regime franquista abriu contra os profissionais vinculados ao ensino, para que sejam facilmente acessíveis. São ainda divulgados 485.136 registos de conselhos de guerra e 137.898 registos de soldados. Estes 1.284.597 registos estão compilados no site da Inovação e Direitos Humanos, que conta com um motor de busca por nome e apelido.
Conforme assinala o El Diario, os profissionais do ensino foram duramente castigados pelo franquismo, que os acusou de serem responsáveis por inocularem na sociedade "o vírus republicano". O processo de purga visava acabar com essa influência e aplicar um castigo exemplar aos intelectuais. Parte dos professores alvo da purga puderam voltar a exercer a sua profissão no ensino público. Mas, a pelo menos um terço, foi aplicado um castigo mínimo de um ano e meio sem salário ou a expulsão definitiva do ensino público. Outros professores foram fuzilados.
O regime ditatorial criou comissões que examinavam a trajetória profissional e privada de cada professor, incluindo as suas filiações políticas e sindicais, e estabeleciam se podia regressar ou não ao ensino. Essas comissões eram formadas pelo diretor da escola ou instituto, um inspetor, duas vogais e um representante da associação de pais, com "provada moralidade católica" e de "solvência moral e técnica". Em alguns casos, os processos de purga chegavam após a pessoa ter sido fuzilada. Foi o caso, por exemplo, de Dióscoro Galindo, professor fuzilado com Federico García Lorca. Apesar de já morto, suspenderam-no e retiraram-lhe o salário, pediram à família que desalojasse a sua casa e que entregasse as chaves e o inventário da escola. Em muitas povoações, raparam o cabelo às professoras e obrigaram-nas a andar pelas ruas principais antes de as enviar para o desterro.
Com a publicação dos processos referentes à purga no ensino, o IHR pretende facilitar o acesso à informação a quem se vê obrigado a deambular de um arquivo para outro, percorrendo centenas de quilómetros, para encontrar pistas sobre os seus familiares ou para encontrar informação para as suas investigações académicas.
"Fazemos o que o Estado devia fazer: bancos de dados de acesso fácil e público", explica Concha Catalán, jornalista e cofundadora do IHR.
A equipa de Inovação e Direitos Humanos tem impulsionado o projeto de forma altruísta, mas precisa de doações para poder mantê-lo e desenvolvê-lo. "Queremos continuar a acrescentar mais dados. Temos um projeto sobre os julgamentos sumários de mulheres, com uma análise detalhada de todas as mulheres que foram alvo de represálias na Catalunha por conselhos de guerra. A nossa intenção é seguir com este tipo de projetos. Temos acesso a outros bancos de dados que ainda não podemos integrar", assinala Catalão.