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Dirigente do PT assassinado por bolsonarista

Marcelo Arruda celebrava os seus 50 anos quando foi morto a tiro por um polícia penal que disparou contra ele depois de gritar “Aqui é Bolsonaro”. Este é o último e mais grave caso de uma série de episódios de violência protagonizados pela extrema-direita brasileira quando se aproximam as presidenciais.
Marcelo Arruda na sua festa de aniversário.
Marcelo Arruda na sua festa de aniversário.

Um dirigente do Partido dos Trabalhadores de Foz do Iguaçu foi assassinado este domingo durante a sua festa de aniversário. Marcelo Arruda comemorava 50 anos quando um apoiante do presidente brasileiro irrompeu pela celebração atirando a matar.

Marcelo Arruda era dirigente local e tesoureiro do partido e tinha sido candidato a vice-prefeito em Foz de Iguaçu nas últimas eleições. O seu assassino foi um polícia penal federal que se descreve no seu perfil do Twitter como “conservador, cristão” e acrescenta “Bolsonaro Presidente, armas = defesa, Não ao Aborto, Não às Drogas.”

Jorge Guaranho, segundo o boletim de ocorrência do caso, citado pela Globo, saiu do carro armado a gritar “Aqui é Bolsonaro”, tendo disparado e atingido o militante da esquerda brasileira. Acabou por ser também baleado quando Marcelo se tentou defender.

Nas suas redes sociais, segundo a mesma fonte, destacam-se as publicações de apoio a Bolsonaro e surge mesmo, numa publicação de junho de 2021, ao lado de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro. A sua última publicação antes do crime é uma republicação de uma mensagem do candidato a deputado bolsonarista Sérgio Camargo que escreveu “O PT defende criminosos, negocia com criminosos e age como organização criminosa. Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós. É o nosso futuro e o das próximas gerações que está em jogo.”

Em nota oficial, o PT homenageia o seu militante e alerta “para a escalada de perseguição a parlamentares, filiados e filiadas, militantes de movimentos sociais e de outros partidos de esquerda e o crescimento da violência política no país”, escrevendo ainda que “embalados por um discurso de ódio e perigosamente armados pela política oficial do atual Presidente da República, que estimula quotidianamente o enfrentamento, o conflito, o ataque a adversários, quaisquer pessoas ensandecidas por esse projeto de morte e destruição vêm se transformando em agressores ou assassinos”.

Violência da extrema-direita cresce à beira das eleições

Este crime surge momento em que se registaram outros episódios de violência. Na passada quinta-feira, foi atacado o carro do juiz federal Renato Borelli, que tinha mandado prender em junho o ex-ministro da Educação de Bolsonaro, Milton Ribeiro. Foram arremessadas fezes de animais, ovos e terras ao veículo mas o magistrado conseguiu escapar ileso.

No mesmo dia à noite, foi lançado um engenho explosivo artesanal contra um comício de apoio a Lula, na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. O atacante foi detido.

Antes disso tinha havido, a 15 de junho, um ataque com um drone a uma iniciativa de Lula. Foi lançado veneno para matar moscas sobre as pessoas presentes no local. Também no mês passado, apoiantes do presidente invadiram o local onde se estava a apresentar o programa de governo de Lula, gritando insultos.

E em maio, o carro onde se deslocava Lula foi cercado por bolsonaristas em Campinas. Os manifestantes insultaram o candidato presidencial enquanto o veículo tentava passar.

Numa outra nota, o Partido dos Trabalhadores lista os muitos episódios de violência dos últimos anos e sublinha que este caso foi apenas “o mais recente episódio da escalada de violência política que Bolsonaro sempre incentivou em sua carreira pública, que começou com um plano para explodir o gasómetro do Rio, em 1988”. “A extrema-direita vem semeando o ódio e cometendo sucessivamente ameaças, agressões, assassinatos e atentados contra a oposição”, escreve o partido.

Dois candidatos, reações diferentes

Os principais candidatos às presidenciais brasileiras deste ano reagiram de forma muito diferente. Lula homenageou Marcelo Arruda mas pediu também “compreensão e solidariedade com os familiares de José da Rocha Guaranho, que perderam um pai e um marido para um discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável.”

Jair Bolsonaro, por sua vez, esperou que todo o mundo político brasileiro se expressasse mas não referiu, na sua conta do Twitter, nenhum dos envolvidos. Escreve que republica uma mensagem de 2018, citando-se “dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos. É o lado de lá que dá facada, que cospe, que destrói património, que solta rojão em cinegrafista, que protege terroristas internacionais, que desumaniza pessoas com rótulos e pede fogo nelas, que invade fazendas e mata animais, que empurra um senhor num caminhão em movimento.” Para ele, “falar que não são esses e muitos outros atos violentos mas frases descontextualizadas que incentivam a violência é atentar contra a inteligência das pessoas”.

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