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Dezenas de milhares de pessoas em comício da oposição na Bielorrússia

O presidente Lukashenko impediu os dois candidatos mais bem posicionados de o desafiar nas próximas presidenciais. Agora, uma candidata que era considerada à partida outsider, juntou mais de 60 mil pessoas no seu comício.
Membros da oposição participam no maior comício de sempre contra o presidente bielorusso. Foto de TATYANA ZENKOVICH/EPA/Lusa.
Membros da oposição participam no maior comício de sempre contra o presidente bielorusso. Foto de TATYANA ZENKOVICH/EPA/Lusa.

Alexander Lukashenko é presidente da Bielorrússia há 26 anos e recandidato ao lugar. A braços com uma gestão negacionista e desastrada da pandemia e com a crise económica, tem visto o seu poder contestado nos últimos tempos. Por isso, tratou de afastar das eleições os dois candidatos mais bem colocados para o enfrentar, o ex-chefe do russo Gazprombank, Viktor Babariko, detido e acusado de desvio de dinheiro e evasão fiscal, foi impossibilitado de se candidatar devido ao processo criminal contra ele. O ex-embaixador e atual gestor de um parque de negócios Valery Tsepkalo, viu a candidatura inviabilizada por centenas de assinaturas terem sido consideradas nulas.

Sobrou Svetlana Tikhanovskaya, uma desconhecida de 37 anos, ex-professora e mulher de um vlogger famoso, também ele preso, em maio, ainda antes que pudesse apresentar-se a estas eleições. Foi à volta dela que a oposição se juntou. Uma unidade que ficou simbolizada na fotografia de 16 de julho passado, ao lado de Maria Kolesnikova, ex-diretora de campanha de Babariko, e Valery Tsepkalo, mulher de Valery. Num país em que a política é fortemente dominada por homens e em que o próprio presidente da República declarou de forma provocatória que uma mulher presidente “colapsaria, coitadinha” e que “a constituição não está feita para as mulheres”, a imagem tornou-se um ícone e os mais otimistas trataram de começar a falar da “revolução das mulheres”.

Foi contudo o seu comício da passada quinta-feira que se tornou o ato de maior desafio ao poder instalado no país desde o colapso da União Soviética. A organização de defesa dos direitos humanos Viasna diz que foram mais 63 mil as pessoas que se juntaram no parque da Amizade dos Povos em Minsk. Mudança e libertação de presos políticos fizeram parte das ideias transmitidas nas palavras de ordem.

A nove de agosto se verá como esta mobilização da oposição se materializa em resultados eleitorais. A esperança não é muita uma vez que as eleições no país não são consideradas pelos observadores internacionais como livres. Mas, para já, as palavras de Tikhanovskaya fazem sucesso: “estou cansada de ter medo. E vocês? Estão cansados de ser pacientes? Estão cansados de ficar calados? Estão cansado de ter medo?”.

Como promessa eleitorais traz sobretudo duas: a libertação dos presos políticos e novas eleições em que vão a votos os candidatos que desta feita não se puderam apresentar.

Mercenários russos presos

O regime de Lukashenko era conhecido pela sua aliança com a Rússia. Mas até isso mudou. Aliás, o mais recente número do presidente bielorrusso foi a prisão, esta quarta-feira, de 33 mercenários russo, do Grupo Wagner, empresa de segurança privada e organização paramilitar com ligações estreitas ao Kremlin e que atua em defesa dos seus interesses em teatros de guerra como o leste da Ucrânia, a Síria e a Líbia.

O governante tratou de passar a mensagem que estes planeavam um ataque terrorista, antes das eleições, de forma a desestabilizar o escrutínio e que haveria já mais duzentos espalhados pelo país.

O governo russo protestou dizendo que a detenção de 33 cidadãos russos “não se enquadra no panorama das relações entre alidos.” O embaixador russo alegou entretanto que estes mercenários eram membros de uma companhia de segurança russa que tinham perdido um voo de ligação em Minsk e estavam à espera de nova viagem.

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