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Detida dirigente do PT da Argélia
Louisa Hanoune, secretária-geral do Partido dos Trabalhadores da Argélia, foi colocada em detenção provisória pelo Tribunal militar de Blida na última quinta-feira. Hanoune compareceu a uma convocatória para ser ouvida como testemunha do processo contra Saïd Bouteflika, irmão do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika. O testemunho da secretária-geral do PT durou cinco horas.
Louisa Hanoune, 65 anos, foi, em 2004, a primeira mulher candidata à Presidência da história da Argélia e do mundo árabe. Repetiu a candidatura em mais duas oportunidades, tendo conseguido o melhor resultado em 2009, quando obteve 649.632 votos, (4,22%). Foi eleita deputada nas eleições de 1997, tendo sido reeleita sucessivamente. No início de março deste ano, anunciou que não seria candidata às eleições então marcadas para 14 de abril, considerando que apresentar-se seria trair as aspirações populares que emanaram das grandes mobilizações iniciadas em 22 de fevereiro.
Fugas de informação suspeitas
Segundo o diário El Watan, uma série de fugas de informação para os meios de comunicação social já indiciavam que a convocatória de Hanoune pelo juiz de instrução do Tribunal Militar teria outras intenções para além de um simples testemunho pedido pela defesa do acusado. Uma TV privada antecipou a notícia ainda antes de Hanoune chegar a Blida; quando chegou, já tinha a TV pública à sua espera, numa transmissão em direto. E antes de terminar a audiência, uma rede privada anunciou a sua detenção provisória. Além disso, acrescenta o diário, nenhum dos advogados de defesa de Saïd Bouteflika admitiu ter requerido o testemunho da deputada do PT.
O El Watan informa ainda que Hanoune já tinha sido interrogada durante cinco horas na sede da Direção de Segurança Interna (DSI), mas não quis tornar esse episódio público, considerando que o dossier fora encerrado.
“Criminalização da ação política independente”
Em comunicado, o Partido dos Trabalhadores da Argélia denuncia a prisão provisória da sua dirigente como “um ato de criminalização da ação política independente” que mostra a vontade do “Poder de facto” de disciplinar militantes e ativistas.
“Trata-se de uma medida contra o povo argelino e a sua mobilização revolucionária, iniciada a 22 de Fevereiro de 2019”, afirma ainda o secretariado permanente do PT, que conclama “ao abandono de todas as acusações lançadas contra ela e à sua libertação incondicional.”
Para a Liga Argelina de Defesa dos Direitos do Homem (LADDH), com a detenção de Louisa Hanoune, “a situação assume perigosamente um outro contorno.” Em comunicado, a organização de direitos humanos denuncia que “uma mulher política, chefe de um partido, é presa após comparência como testemunha perante o Tribunal militar, abrindo assim, a via a todos os cenários e a todas as derivas.” E questiona: “Este assunto de ‘conspiração contra o Exército’ [refere-se ao processo contra Saïd Bouteflika] não será um bom álibi para calar todas as vozes discordantes contra a guia de marcha política que o general Gaïd quer impor ao povo?”
Assim, a LADDH apela ao movimento popular a prosseguir a mobilização e a manter “o rumo em torno do seu objetivo principal reivindicado após o 22 de fevereiro, a saber, a queda do Regime e dos seus símbolos”.
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