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Descida real do preço dos bens alimentares "exige controlo de preços"

Catarina Martins diz que a descida de 6% no IVA dos alimentos essenciais não compensa a subida de mais de 20%. Em frente ao Pingo Doce em Rio Tinto, lembrou que em Espanha os supermercados demoraram 15 dias a absorver a diferença para os seus lucros.
Catarina Martins junto ao Pingo Doce de Rio Tinto. Foto Fernando Veludo/Lusa

Numa ação sobre o aumento do custo de vida junto a um supermercado Pingo Doce em Rio Tinto, no concelho de Gondomar, Catarina Martins voltou a criticar o anúncio do Governo sobre a descida do IVA num cabaz de bens alimentares essenciais. Mas começou por lembrar que o grupo dono daquele supermercado, a Jerónimo Martins, anunciou na semana passada lucros de 590 milhões de euros "num ano em que quem trabalha em Portugal começou a comprar menos bens alimentares porque o salário não chega".

Para a coordenadora bloquista, a medida que devia ter sido tomada era a de "controlar os preços". Quanto à medida anunciada pelo Governo de baixar o IVA em alguns bens essenciais, considera que "isso pode significar a descida de 6% nalguns bens, poucos, isto se a grande distribuição não acabar por comer a descida do IVA e integrá-la nos seus lucros, como já aconteceu noutros países". Por exemplo, "em Espanha demorou 15 dias a acabar a descida dos preços com a descida do IVA", lembrou.

Em todo o caso, "descer 6% não compensa os mais de 20% de aumento que ninguém explica" e por isso "é preciso uma descida real e essa descida exige controlo de preços", defende Catarina, em vez de o país ficar agora dependente da boa vontade da grande distribuição. "A grande distribuição não tem boa vontade, tem sido multada em milhões de euros pela Autoridade da Concorrência. Vamos mesmo confiar que sem mecanismos de controlo de preços é agora que os bens essenciais descem?"

A solução defendida pelo Bloco passa pela definição do cabaz de bens essenciais e dos preços a que esses bens podem ser vendidos, seguindo-se uma observação desses preços ao longo do tempo para evitar abusos, tal como se fez com os preços das máscaras durante a pandemia.

Já o anúncio do Governo "faz lembrar o anúncio da descida do IVA na conta da luz, que depois se percebeu" que afetava só uma parcela pequena da fatura total que os consumidores pagam, prosseguiu. E "enquanto as pessoas não conseguem fazer as compras, o patrão deste supermercado ganha num mês o mesmo que quem está na caixa demora 25 anos a ganhar", insistiu Catarina, sublinhando que o que está em causa com esta inflação é um "verdadeiro assalto aos salários" quando "o próprio Banco Central Europeu já reconhece que o problema está nas margens de lucro e não nos salários".

Anúncios do Governo: "Se ajuda na renda, acaba por perder no supermercado"

Sobre o conjunto das medidas de apoio anunciadas na sexta-feira, Catarina reconhece que "para algumas pessoas que estão numa situação muito complicada, há uma medida ou outra que pode fazer a diferença", mas a generalidade dos trabalhadores "não vê nada com estas medidas e vai continuar a ter um salário que não chega ao final do mês".

"Se ajuda na renda, acaba por perder no supermercado", resumiu a coordenadora do Bloco, concluindo que "passarmos a vida a discutir estes pequenos anúncios é uma forma de não se discutir o fundamental: se queremos medidas que equilibrem a economia, controlando lucros e aumentando salários, ou se achamos bem que Portugal continue a ser um país cada vez mais desigual, em que quem vive do seu salário e da sua pensão não consegue chegar ao fim do mês enquanto na energia,  na banca, grande distribuição continuem a anunciar milhões e milhões de lucros sempre a crescer".

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