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Descaramento e desequilíbrio

Depois de se tornar conhecido que o Governo e os seus parceiros parlamentares iriam criar dois novos escalões de IRS e uma subida do limiar de isenção de IRS, o CDS - que sempre defendeu a redução do número de escações de IRS como forma de pôr "as pessoas a trabalhar melhor ou mais" -recusa-se a voltar a defender a sua velha ideia já que pareceria mal estar a defender, sim, a descida do IRS "para todos", leia-se, "para os 11% que pagam 70%". Mas não podia ficar a atrás.
A nova ideia do CDS é a de que as horas de trabalho extraordinário, feitas pelos trabalhadores, fiquem isentas de IRS. E o argumento é dos mais descarados: não é justo que o esforço extraordinário do trabalhador seja apropriado pelo Estado!
Na verdade, o que o CDS está a fazer é colocar o Estado a subsidiar o trabalho extraordinário, já que o rendimento líquido dos trabalhadores se reduziria e se tornaria mais atraente. O CDS que aprovou o pacote laboral de 2012 que - entre muitas medidas - cortou a metade o preço pago pelo patronato pelo trabalho extraordinário - agora quer ajudá-lo de novo pondo o Estado a contribuir, ao mesmo tempo que se afirma muito preocupada pelos trabalhadores votantes...
Ora, se o trabalho extraordinário é pouco atractivo às empresas, que se suba o seu preço, mas nunca se ponha em causa o princípio de que todo o rendimento deve ser tributado.
A nova líder está a ganhar os tiques do seu patrono Portas: é muito criativo nas suas justificações. Já quando o CDS foi o partido que defendeu o fim do imposto sucessório, o argumento foi que não era justo o Estado até tributar a morte, quando na verdade o que se estava era tributar os vivos que recebiam a herança, em nome da igualdade de oportunidades, algo que o CDS sempre defende, mas que apenas aceita quando é o Estado a pagar. E aí obviamente que os atingidos não eram os mais pobres...
O CDS tem destas coisas: inverte a lógica da intenção para ter o apoio dos pequeninos ao benefício dos outros. Eis a verdadeira face do populismo.
Por João Ramos de Almeida, publicado no blogue Ladrões de Bicicletas.
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