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Depois de ter distribuído lucros, fundo de pensões do BPN não paga reformas

Os antigos funcionários do Banco Português de Negócios (BPN) vão receber reformas muito inferiores ao que teriam direito. Alguns trabalhadores estão a receber simulações de reforma seis vezes inferiores.
Seis meses após o Governo PSD/CDS tomar posse, em dezembro de 2011, a gestão dos fundos de pensões da banca foi entregue à Segurança Social, excepto o do BPN.

Os antigos trabalhadores do BPN vão receber reformas muito inferiores ao que teriam direito. Alguns estão mesmo a receber simulações de reforma seis vezes inferiores. Um dos trabalhadores, ouvido pelo jornal Público, teria direito a uma pensão de 2100 euros/mês mas só vai receber 460 euros, segundo a Caixa Geral de Aposentações.

A Comissão de Trabalhadores da Parvalorem – banco para onde foram transferidos os trabalhadores do BPN que não transitaram para o BIC – adianta que um terço dos funcionários vão perder metade do tempo de reforma, ou seja, metade do valor da pensão.

Esta injusta situação para os funcionários, nasce num complexo e estranho processo de 2010, altura em que o banco laranja foi gerido pela Caixa Geral de Depósitos.

“Nessa altura, a administração do BPN, indicada pela CGD, decidiu rever a forma como eram calculadas as “responsabilidades” do fundo de pensões do banco. O Fundo foi considerado excessivo. Haveria, segundo os novos cálculos, dinheiro a mais. Mas o contrato do Fundo impedia que aquelas verbas (130 milhões de euros) fossem usadas para outros fins. O contrato estipulava que nenhuma alteração podia “implicar qualquer prejuízo susceptível de afectar o património do fundo” (artº 12º). Essa cláusula foi suprimida na alteração feita pela administração. E uma nova regra apareceu. A que permite “a devolução ao Associado do excesso de património do fundo”, Isto, apesar de o ISP e o contrato constitutivo determinarem que o fundo é "património exclusivamente afecto à realização do plano de pensões", explica o Público.

A administração pública entendeu que existia um excesso e autorizou que o dinheiro revertesse para o BPN. Curiosamente, este processo mereceu parecer positivo da entidade reguladora, o Instituto de Seguros de Portugal.

O atual Presidente da CGA, Norberto Rosa, era à época administrador do BPN, com o pelouro da Contabilidade. Rui Pedras, outros dos administradores, transitou para o BIC. Maria Luís Albuquerque, que seguiu de perto o processo, não quis responder a nenhuma pergunta sobre a matéria, indica o jornal.

O papel da ministra das Finanças

A atual ministra das Finanças esteve diretamente envolvida nas últimas decisões que sugaram as reformas aos funcionários do BPN. Seis meses após o Governo PSD/CDS tomar posse, em dezembro de 2011, a gestão dos fundos de pensões da banca foi entregue à Segurança Social, excepto o do BPN.

“Só depois da venda do BPN, por 40 milhões de euros, ao grupo de capitais luso-angolanos BIC, que o Fundo de Pensões deste banco foi extinto. Com legislação à medida, o decreto lei 88/2012. Ao contrário dos restantes fundos da banca, entregues à Segurança Social, o do BPN foi integrado na Caixa-Geral de Aposentações. A CGA recebeu 96,7 milhões. No cofre do BPN, que passou a ser do BIC, ficaram 24,8 milhões de euros, que eram o tal “excesso”, segundo os novos cálculos”.

No entanto, o problema é que o relatório e contas da CGA de 2012, o último disponível, revela que logo nesses primeiros meses, entre a publicação do decreto-lei que extingue o fundo do BPN, e dezembro, fecho das contas, foi necessário “provisionar”, ou seja, dotar de mais dinheiro, as reservas com 2,2 milhões, avança o artigo de Paulo Pena, publicado na edição desta segunda-feira do Público.

Para além disso, o Tribunal de Contas, no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2012, levanta dúvidas sobre a capacidade da CGA para fazer face aos compromissos: “Também se desconhece se os valores transferidos para a CGA serão suficientes para cobrir os encargos futuros com pensões que foram transferidos para o Estado.”

Por esse motivo, a CGA atrasa o pagamento deste trabalhadores do antigo BPN. A Comissão de Trabalhadores da Parvalorem procura uma solução, tendo já reunido com a secretaria de Estado do Tesouro. E vários conhecedores deste processo reconhecem que há um “erro grosseiro” na forma como todo este assunto foi gerido, sublinha o jornal.

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