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Cresce o assédio eleitoral no Brasil

Patrões e chefes de empresas pressionam cada vez mais os seus trabalhadores para votaram nos seus candidatos favoritos, sobretudo Bolsonaro. Ministério Público do Trabalho contabiliza 197 denúncias. Também os sindicatos estão a recolher casos.
Imagem da CUT contra o assédio eleitoral.
Imagem da CUT contra o assédio eleitoral.

Cyro Toledo, patrão da indústria pecuária, prometeu um 15º mês aos trabalhadores se Bolsonaro ganhasse as eleições. A empresária rural Roseli Vitória apelou aos seus colegas do setor agropecuário para que “demitam sem dó” quem votar em Lula. A empresa de máquinas agrícolas Stara, do Rio Grande do Sul, emitiu um comunicado em que sugere que reduzirá o orçamento em 30% se Lula ganhar a segunda volta das eleições. Uma responsável da área dos recursos humanos da Ferreira Costa, rede de lojas de materiais de construção, decoração, jardinagem e bricolage de Pernambuco, ameaçou com despedimento trabalhadores que votassem em Lula. Um empresário do ramo da cerâmica do Pará prometeu 200 reais a cada um dos funcionários que não votasse no candidato do PT.

Estas são apenas algumas das 197 denúncias de assédio eleitoral que o Ministério Público do Trabalho do Brasil registou este ano. Trata-se do crime em que um empregador ou responsável coage, ameaça ou promete benefícios com o objetivo de influenciar o sentido de voto dos trabalhadores, humilha ou constrange alguém por divergências políticas no ambiente de trabalho ou “pede” que se publiquem mensagens a favor de determinados políticos nas redes sociais.

O organismo anunciou que criou mesmo um gabinete de crise para acompanhar as queixas que lhe estão a chegar, notando que estas foram “intensificadas na última semana”.

De acordo com os números divulgados, o fenómeno é mais denunciado a sul, totalizando 103 queixas. O Paraná, com 42 casos, é aquele em que há mais denúncias.

Vários sindicatos estão também a recolher informações. Por exemplo, a central sindical CUT está a fazer uma monitorização própria a partir de uma ligação no seu portal e afirma ter descoberto em apenas uma semana 62 casos.

O organismo sindical revela muitas outras situações como a de uma dona de uma escola de educação de infância que ameaça despedir quem não votar em Bolsonaro. Ou a de uma dona de uma clínica que questionou o sentido de voto dos trabalhadores numa reunião e se dirigiu a estes para os tentar convencer que “o Brasil viraria uma Venezuela”, “a empresa não conseguiria pagar impostos e que, por isso, terá de demitir funcionários”. Numa indústria de alimentos do Pará, os patrões prometeram aumento no subsídio de refeição em caso de vitória de Bolsonaro e ameaçaram encerrar em caso de vitória de Lula. Numa empresa de produtos de higiene do Paraná foram oferecidos 300 reais para além de folgas se o candidato da extrema-direita for reeleito.

E há mesmo quem não se coíba de afirmar publicamente a prática deste tipo de crime. Juan Davi, blogger e dono de uma empresa, gravou um vídeo em que assumia ter despedido mais de dez pessoas por terem votado em Lula. Dizia aí :“Olha, esse recado aqui vai pra galera que é de esquerda. Acabei de chegar na empresa e eu descobri aqui, tinha aí de 12 a 13 pessoas – vou até mandar 13, se tiver 13 é melhor ainda que vai um número de esquerdista aqui – que a galera ia votar no Lula. Acabei de fazer a demissão deles agora”.

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