You are here
Crédito à habitação: portugueses são os mais endividados da OCDE
No relatório Brick by Brick: Building Better Housing Policies ("Tijolo a tijolo: Construir melhores políticas de habitação”), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) faz as contas à subida dos preços das casas nos países membros e à situação financeira das famílias face ao crédito à habitação.
O Diário de Notícias analisou o relatório divulgado na segunda-feira, que conclui que uma família portuguesa precisaria de 11.4 anos de rendimentos do trabalho - líquido de impostos e contribuições para a Segurança Social - para adquirir uma casa de 100 metros quadrados.
Com o aumento dos preços das casas na última década, este esforço financeiro cresceu ainda mais. Em 2010, eram necessários 9.5 anos de rendimento disponível para adquirir o mesmo imóvel no nosso país. E a pandemia não fez abrandar o aumento dos preços. Segundo a OCDE, “em vários países, o crescimento dos preços das casas entre 2019 e 2020 foi significativo: 13% no Luxemburgo, 9% na Turquia e 7% na Estónia, Alemanha, Polónia, Portugal e Eslováquia”.
O relatório conclui também que são as famílias portuguesas as que mais sentem o peso do empréstimo para a compra de casa, tendo em conta o seu rendimento. "O rácio [dívida/rendimento] está bem acima de 100% na maioria dos países da OCDE e ultrapassa os 200% em alguns deles, como Portugal, Espanha e Holanda", diz o relatório. Portugal lidera mesmo esta lista, com um rácio de 264.1%. Quando se separam os vários escalões de rendimento, verifica-se que esse peso é muito maior para quem menos ganha. O rácio dívida/rendimento é de quase 700% para o quinto da população com rendimentos inferiores. Mas também nos rendimentos superiores, é em Portugal que o peso do empréstimo é maior.
O relatório indica também que o investimento público em habitação esteve em queda nos últimos 20 anos na OCDE, passando de uma média de 0.17% do PIB em 2001 para 0.06% em 2018. Para reverter esta tendência, a OCDE defende mais investimento em habitação acessível para apoiar uma recuperação económica inclusiva. Mas também o abandono dos incentivos fiscais à compra de habitação, que tende a beneficiar quem tem rendimentos superiores.
Este organismo internacional recomenda aos Estados que dependam menos dos impostos sobre transações e deem mais peso ao imposto anual sobre o imobiliário, que incida sobre o preço atual do terreno em vez do valor da construção. Segundo a OCDE, muitos países têm desvalorizado este tipo de receita fiscal.
Quanto ao impacto da covid-19 no mercado imobiliário, a OCDE diz que pode provocar mudanças duradouras, com o aumento da procura de casa fora dos centros urbanos e a oportunidade para reconverter os centros das cidades com mais habitação, devido à menor procura de espaços comerciais e de escritórios, setores afetados pela emergência das compras online e do teletrabalho. A organização chama ainda a atenção para a pressão do alojamento local nos preços das casas, prevendo que esse fenómeno irá regressar assim que a pandemia estiver mais controlada.
Add new comment