Covid-19: Associação D3 alerta para insegurança da aplicação portuguesa de rastreamento

21 de July 2020 - 17:03

A associação de defesa dos direitos digitais salienta que a aplicação STAYAWAY COVID irá enviar informação para a Apple e a Google e aponta que não existe enquadramento legal para a não discriminação por não utilizar a app. A D3 exige a divulgação do código da app e do montante de financiamento.

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Foto de stayaway.inesctec.pt

A Associação D3 – Defesa dos Direitos Digitais emitiu esta terça-feira um comunicado onde manifesta a sua “profunda preocupação e apreensão pela falta de transparência” no desenvolvimento da aplicação móvel app STAYAWAY COVID, de rastreamento de contactos devido à pandemia da covid-19.

No comunicado a que a Lusa teve acesso, a associação mostra “profunda preocupação e apreensão pela falta de transparência” no desenvolvimento da aplicação, e alerta para “as consequências implicadas pelo uso generalizado de uma solução tecnológica, com eficácia não comprovada e com muitas dúvidas por responder”.

A aplicação STAYAWAY COVID já estará pronta desde o início de junho, e encontra-se agora numa fase de testes junto de um grupo alargado de utilizadores. À semelhança de outras aplicações criadas durante a pandemia, esta funcionalidade permitirá, às pessoas que a instalarem, receber informação sobre a possibilidade de contágio, tendo em conta a monitorização dos contactos anteriores.

O sistema foi desenvolvido pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec), financiada com verbas públicas através da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

O debate sobre a utilidade deste tipo de aplicações, que prometem segurança em troca de dados dos utilizadores, tem sido abordado por diversas organizações, e os alertas da associação D3 apontam para vários possíveis problemas deste sistema.

Em primeiro lugar. a associação acusa o Governo português de estar a apoiar oficialmente uma aplicação que “enviará informação para a Apple e Google”. Este envio de dados, diz a associação, será feito “sem qualquer acordo com estas empresas para assegurar que os dados de utilização da app não vão ser utilizados para outros fins”.

A D3 exige, por isso, respeito pela integridade dos dados dos cidadãos, particularmente num momento em que muitos se aproveitam da instabilidade atual. “Não é aceitável que estas duas gigantes possam ser partes fundamentais de um mecanismo de saúde pública, sem qualquer transparência pela forma como operam”, referem.

Um outro alerta feito pela associação está relacionado com a falta de enquadramento legal para prevenir a “discriminação baseada na opção pelo uso ou não uso da app”, afirmando o caráter “exclusivamente voluntário da sua instalação”. A associação apela ao governo e ao parlamento a implementação de legislação específica para prevenir estas situações.

Esta legislação deve também assegurar que “soluções tecnológicas realizadas com financiamento público devem ter o seu código público”. A associação que pede a “publicação imediata do código-fonte da StayaWay”, a “publicação dos mecanismos de funcionamento Apple+Google para esclarecer a privacidade dos dados de utilização da app” exige ainda que seja divulgado o montante de financiamento público da aplicação.

No comunicado, a associação pede ao Governo que reveja o seu entusiasmo em aderir a soluções que “podem só complicar o problema”. A D3 pede também ao executivo que se abstenha de incentivar a instalação da aplicação, por parte da população portuguesa. O alerta é também dirigido à população em geral, para a qual a D3 recomenda “a máxima precaução antes de enveredar por este artifício tecnológico até que existam garantias de que não vai piorar ainda mais a drástica situação que todas e todos estão a viver”.