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“A conta certa que conta mesmo é que nunca aceitamos cortes de salário”

No comício deste domingo no Capitólio, Catarina Martins mostrou que as contas apresentadas por António Costa para justificar a crise governativa não estão certas e desafiou o PS a manter o acordo respeitando os trabalhadores e continuando “o que estava combinado”.
Foto de Paula Nunes

Credibilidade e estabilidade. Foram os argumentos utilizados contra as propostas do Bloco ao longo desta legislatura. A coordenadora bloquista utilizou o exemplo de três medidas para mostrar que, pelo contrário, “o maior fator de credibilidade externa do país foi a estabilidade da solução de maior parlamentar que se encontrou e a nossa capacidade de não retrocedermos”. E essa não deveria ser posta em causa pelo Primeiro-Ministro “porque as eleições europeias lhes estão a correr mal”.

Credibilidade, estabilidade e responsabilidade tinham sido motivos de ataque a propósito do descongelamento de pensões. Ao contrário de PSD e CDS que “tinham dito à Comissão Europeia que iam cortar 600 milhões de euros a cada ano que passasse nas pensões” e do Partido Socialista que “tinha dito que também ia cortar por via do congelamento de pensões, congelamentos na Segurança Social, 250 milhões de euros a cada ano”, o Bloco insistiu no que diziam ser impossível e foi por isso que "3 milhões de pensionistas viram as suas pensões aumentar nestes anos".

O mesmo sucedeu com o salário mínimo nacional, esclarece Catarina Martins: “os patrões atiraram-se ao ar: impossível, íamos dar cabo da economia”, “as instituições europeias vieram dizer: vejam lá, não pode ser é um perigo para a economia portuguesa”. A teima do Bloco não levou a “nenhuma perda de credibilidade nem nenhum desastre económico”, pelo contrário “700 mil pessoas que em 2015 ganhavam 505 euros de salário e hoje ganham 600”.

E o mesmo igualmente sucedeu com o “enorme aumento de impostos de Vítor Gaspar: “foram criados mais escalões do IRS. E toda a gente que vive do seu trabalho em Portugal paga hoje menos IRS do que em 2015.”

Mantemos o nosso compromisso

Catarina Martins garante que o Bloco “não mudou de opinião” sobre o tema que despoletou a crise governamental que o país atravessa: “quando votámos o respeito pelo tempo de quem trabalha votamos nem mais nem menos do que foi decidido no parlamento em recomendação e em dois orçamentos de Estado.” E assegura que o partido teve “cuidado” e não apresentou a “proposta que o Bloco de Esquerda gostaria que fosse porque sabemos que em todas coisas há negociação, há convergência”.

Só que essa “proposta muito limitada” acabou por ser “tratada com números absolutamente fantásticos”. A dirigente do Bloco questionou assim os diferentes números avançados pelo governo sobre quanto custará a contagem integral de tempo de serviço dos professores: “como é que vamos de 37 milhões para 240? De 635 em 2026 para 800 milhões já ali ao virar da esquina?”

E se afiança que o Bloco gosta de contas certas, o que Catarina Martins sublinha mesmo é que “a conta certa que conta mesmo é que nunca aceitamos cortes de salário seja no público, seja no privado.”

Por isso, lançou um apelo “simples e sensato” ao Partido Socialista: “mantenhamos o acordo, não temos de votar com a direita, mantenhamos a forma de respeitar todos os trabalhadores de uma forma gradual como já tínhamos decidido”, contrastando assim com a direita que “agora faz umas piruetas a fingir que defende professores.”

Manter o acordo, para a coordenadora bloquista é a forma de cumprir responsabilidades que estão por efetivar. Por isso questionou: “há 800 mil cuidadores informais, vamos abandoná-los? 700 mil trabalhadores por turnos à espera de uma lei que lhes faça justiça, vamos desistir? 750 mil famílias podem ser despejadas se não fizermos nada, vamos assistir a isso porque queremos fazer campanha? Vamos quebrar a palavra que demos a António Arnaut e João Semedo de defender do Serviço Nacional de saúde porque agora não dá jeito?”

É preciso declarar um estado de emergência europeu sobre as alterações climáticas

O Comício “Lado a Lado, pelo que é de todos” contou com ainda com a música dos Couple Coffee e com intervenções de Marisa Matias, Anabela Rodrigues e Francisco Louçã.

A cabeça de lista do Bloco às eleições para o parlamento europeu sublinhou que estas são “fundamentais para a nossa vida”. Não deixou de comentar a atual crise política afirmando que "as pontes que foram construídas não podem ser destruídas em nome de uma ambição de uma maioria absoluta”. Mas focou-se mais numa outra crise “que não abre telejornais”, a crise climática.

A eurodeputada justificou a importância destas eleições porque nelas “disputamos a nossa capacidade para enfrentar aquilo que têm sido as imposições de Bruxelas e os tratados mas também para ganhar espaço para defender os salários, as pensões, o Estado Social, para ter uma política que responda à emergência climática.”

Fez também um balanço do trabalhado realizado e relembrou vitórias obtidas nos confrontos com as instituições europeias numa “União Europeia que teve sempre uma mão muito forte com os mais fracos e muito leve com os mais fortes.”

Marisa recordou a presença “nas comissões que revelaram o escândalo da fraude e da evasão fiscal”, a moção de rejeição do tratado orçamental no direito comunitário e vitórias como os avanços alcançados no combate ao desemprego nas empresas deslocalizadas, na igualdade de género nas políticas fiscais e no combate ao Alzheimer.

A “crise que não abre telejornais”, a crise climática foi um ponto central na intervenção da cabeça de lista do Bloco. À proposta de “declarar um estado de emergência europeu sobre as alterações climáticas” juntaram-se outros eixos programáticos: reconverter a nossa economia, criar empregos verdes, garantir eficiência energética, transportes e mobilidade.

Um caminho que é contrário aos tratados europeus que “não só não nos permitem responder às alterações climáticas como a única coisa que fazem é criar obstáculos”. O “plano de futuro” do Bloco não passa assim por eles mas por “clima, emprego, serviços públicos, Estado Social, lado a lado.

A Europa é de todos e todas que aqui estão

Na sua intervenção Anabela Rodrigues, candidata ao Parlamento Europeu nas listas do Bloco, realçou como “no parlamento europeu poucas vezes vemos alguém que representa a luta anti-racista, as filhas de emigrantes”.

A candidata vê atualmente um Europa que parece mais preocupada com o défice do que com os direitos humanos. Por isso questionou:“há medidas de austeridade quando não cumprimos o deficit mas não temos medidas que penalizem quem não cumpre direitos humanos, então que Europa é esta?”

A sua resposta é que esta realidade é diferente daquela Europa que o Bloco procura construir. “O que queremos é: lutar contra todo o tipo de opressão, sintetiza.”

A força da esquerda são os milhões de pessoas normais contra os “senhores milhão”

Francisco Louçã começou a sua intervenção pela ironia: “como não existe nada parecido a uma crise política importante em Portugal ou motivos de grande preocupação ou de grande tensão” anunciou que decidiu falar da história de Portugal, mais concretamente da história dos “senhores milhão”, como chamou aos privilegiados do país.

Para o ex-coordenador do Bloco este “senhor milhão”, a história das famílias privilegiadas desde o século XIX até hoje, é a história de Portugal que hoje se compreende melhor a partir dos “dois baús em que estes se alimentam: os supermercados, a distribuição, o imobiliário e as rendas”.

Para Louçã, “para controlar o país o senhor milhão precisa de política nevrótica, de desespero, de medo”, “exige a lei da total desigualdade” e “precisa de ódio”. Por isso cria “bolsominions”.

Contrapondo-se a esta história do senhor milhão há “a força da esquerda” que é “buscar os milhões de gente normal que vive com um salário aflito, que paga as suas dívidas para pagar o carro ou a casa, que quer uma escola decente, que quer um sistema de saúde que não seja uma marca de classe, que detesta as rendas e as vantagens dessa clientela farta do Estado.”

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