Referindo-se ao facto de, entre 2010 e 2017, os presidentes-executivos (CEO) das empresas cotadas do PSI-20 terem registado um aumento salarial de 49,7%, ao mesmo tempo que o salário médio dos trabalhadores dessas empresas desceu cerca de 6%, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) sublinha que “esta situação vem confirmar e agravar a mais geral desigualdade de rendimentos que caracteriza a sociedade portuguesa” e que “revela uma particular injustiça diante dos sacrifícios por que muitos passaram durante o período dessa crise e de que ainda hoje não recuperaram”.
De acordo com a CNJP, “uma sociedade com um tão acentuado grau de desigualdade de rendimentos se afasta de um modelo de sociedade justa, coesa e fraterna”.
“As desigualdades salariais a que assistimos nas maiores empresas portuguesas vão muito para além do que poderia justificar o incentivo ou a recompensa do mérito”, sublinha a CNJP, avançando que, “de um modo geral, os salários dos dirigentes do topo não dependem estritamente do sucesso da empresa e mantêm-se mesmo quando não se verifica esse sucesso”.
“Não pode ignorar-se, por outro lado, que o sucesso de uma empresa nunca depende unicamente do trabalho dos seus dirigentes, mas de um trabalho de equipa onde todos desempenham o seu papel. Também a cada um dos trabalhadores são devidos o incentivo e a recompensa”, lê-se na nota.
Para a CNJP, “são chocantes os muito elevados níveis salariais dos dirigentes de topo das maiores empresas portuguesas, que rivalizam com os de outros países europeus mais ricos, sobretudo porque contrastam com níveis salariais mínimos e médios muito inferiores aos desses países”, sendo que “o fosso deve, por isso, ser atenuado sobretudo através do aumento desses níveis salariais mínimos e médios”.
A CNJP manifesta a sua “indignação perante esta chocante desigualdade" e apela a que, "de uma ou outra forma, ela seja corrigida”.
A 28 de setembro, o projeto de lei do Bloco de Esquerda que determina a transparência de vencimentos e propõe o estabelecimento de leques salariais de referência como mecanismo de combate à desigualdade salarial foi chumbado pelo PS, PSD E CDS.