Começou a contra-cimeira do G7 em Irun e Hendaia

21 de August 2019 - 23:17

Anticapitalismo, feminismo, ambientalismo, defesa da democracia social, anti-colonialismo, são alguns dos temas que juntam as plataformas de movimentos sociais que organizam a contra-cimeira do G7. Dizem que vai ser a maior dos últimos anos e comprometem-se com protestos não-violentos.

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Separa-os a fronteira que tem dividido o País Basco. Mas não os separam os propósitos, os ideais e o otimismo. Juntos, arrancaram esta quinta-feira, em Irun e em Hendaia, com a contra-cimeira do G7.

Se em Biarritz se encontram os chefes de Estado de países poderosos cercados pela polícia, nestas outras duas cidades bascas encontram-se ativistas de várias causa num vasto programa de conferências, encontros e manifestações.

Para já, o otimismo é a nota dominante da contra-cimeira. Os organizadores sublinham que há muito tempo que não acontecia uma cimeira tão abrangente e mobilizada. Duas plataformas, a Alternatives G7 e a basca G7 Ez, englobando cerca de 80 associações, trabalham em coordenação, tendo convidado 200 intervenientes diretos para os debates alternativos. São esperadas, dizem, 12 mil pessoas, numa contra-cimeira “ambiciosa” segundo afirma Aurélie Trouvé, porta-voz da associação alter-globalista Attac e da coordenação do Alternatives G7, ao jornal Libération. As razões da confiança do lado francês da fronteira prendem-se, por um lado, com “o ano militante” que se viveu em França com as mobilizações dos coletes amarelos e as manifestações climáticas, “movimentos que se encontram no nosso campo”, sublinha.

Por outro lado, a confiança é alimentada pela dinâmica dos movimentos sociais bascos. No país basco francês onde movimentos como o Alternatiba e o Bizi estão em alta e onde ganha espaço o eusko, a moeda local mais forte da Europa. Os organizadores da contra-cimeira perguntam-se até: “o que lhes passou pela cabeça para impor um G7 ao País Basco, uma terra com uma velha tradição de luta militante”, questiona Laurente Thieulle na FranceInfo.

A confiança de quem organiza a contra-cimeira parece contrastar com a estagnação do papel da cimeira oficial. Antes anunciada como a cimeira dos mais poderosos, onde se jogava muito do essencial política internacional, o G7 parece ser agora uma sombra do que foi. Sem a Rússia desde 2014, o G7 é um G8 menos um que já nem representa os países mais ricos e influentes, nem dos encontros dos governantes alemão, americano, britânico, canadiano, italiano, japonês e francês se esperam decisões significativas.

Os organizadores da contra-cimeira esperam ainda fazer o contraste com a cimeira oficial mas também com os episódios de violência ocorridos noutras ações contra o G7. Demarcam-se do clima da cimeira oficial tornando o espaço da contra-cimeira um espaço de cultura, com concertos e filmes, de festa, e também um espaço gerido de forma participativa.

Procuraram também demarcar-se à partida de ações violentas. Para isso, as duas plataformas assinaram um “consenso de ação contra o G7” que parte do princípio da diversidade dos movimentos que se juntam em torno de “alternativas solidárias, ecológicas, feministas, anti-racistas, decoloniais e anti-imperialistas” em que se comprometem a “agir com calma e determinação num espírito de construção e resistência”, a “não destruir nada, fazendo unicamente uso de métodos e técnicas não violentas”, a “opor-se a todas as tentativas de recuperação das mobilizações com fins comerciais, reacionários ou violentos”.

Para além de concordarem na forma dos protestos, os dois movimentos consensualizaram também uma declaração conjunta. Em conferência de imprensa, denunciam as “medidas securitárias” que vão fazer com que “o espaço público da costa seja privatizado e bunkerizado”, o que “reflete o funcionamento e o DNA do governo e do chefe de Estado que o preside”, “desprezando o povo”.

Os movimentos sociais signatários opõem “às políticas incendiárias destes sete chefes de Estado” as suas resistências e alternativas. Tendo sublinhado como temas-base de intervenção para a contra-cimeira: o fim do capitalismo e das multinacionais, a construção de uma sociedade realmente feminista, um mundo dos povos soberanos, um mundo que defenda a democracia social face ao autoritarismo, um mundo anti-colonialista defendendo resolutamente a abolição das fronteiras e o acolhimento dos migrantes.