You are here

Colômbia continua a revoltar-se

Passado exatamente um mês desde o início dos protestos no país, há cerca de 60 mortes, 120 “desaparecidos” e duas reformas do presidente Iván Duque foram deitadas abaixo. E a mobilização não desarma.
Indígenas na manifestação contra o governo em Medellin. 28 de maio de 2021. Foto de Luis Eduardo Noriega/EPA/Lusa.
Indígenas na manifestação contra o governo em Medellin. 28 de maio de 2021. Foto de Luis Eduardo Noriega/EPA/Lusa.

Greve geral e manifestações constantes. Repressão violenta. Há um mês que a Colômbia vive um período agitado. De um lado, temos o saldo trágico da repressão: 60 mortos e 120 “desaparecidos”, números do Instituto de Desenvolvimento da Paz e da Comissão Intereclesial de Justiça e Paz, realçados pelo Outras Palavras. A mesma fonte cita a organização não governamental Temblores que contabiliza 3.155 denúncias de violência policial, 1.388 prisões arbitrárias, 46 manifestantes com lesões oculares e 22 violações.

Do outro, temos vitórias dos movimentos sociais: duas reformas do neoliberal Iván Duque caíram por terra. Já para não falar em dois ministros que foram obrigados a sair.

A 28 de abril uma multidão saiu às ruas em vários pontos do país contra a proposta de reforma fiscal do governo que fazia o peso da crise recair nas camadas populares e aumentava o IVA de bens de primeira necessidade, continuando a poupar as grandes fortunas. O ministro das Finanças, Alberto Carrasquilla, só aguentou no lugar até dois de maio e a reforma foi abortada.

Mas depois disso as manifestações não pararam. Apesar da militarização das principais cidades do país com vista a tentar impedir mais protestos. O novo alvo principal tornou-se a reforma da saúde que beneficiava os privados, facto mais chocante numa altura em que o país se debate com a pandemia, tendo tido já 3,29 milhões de infetados e 86.180 mortes. No passado dia 19, foi a vez da reforma da saúde seguir o mesmo caminho que a fiscal e acabar cancelada.

Outro elemento do governo acabou por se demitir, a chanceler Claudia Blum, ministra das Relações Exteriores. Para além de associar as manifestações ao governo venezuelano e de classificar os manifestantes como “vândalos”, a ex-ministra e apoiante declarada de Trump criticou também as declarações do governo argentino e de Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, como ingerência.

Marta Hurtado porta-voz de Bachelet foi uma das fontes internacionais insuspeitas de simpatia para com os manifestantes que têm confirmado a intensidade da repressão:"Testemunhámos o uso excessivo da força por agentes de segurança, tiroteios, uso de munições vivas, espancamentos de manifestantes e detenções".

Para além da sua gestão da crise, Blum estava ainda acusada de nomeações irregulares para cargos diplomáticos.

Pré-acordo, impasse e sexta de confrontos

A sexta-feira que marcou exatamente um mês desde o início do processo de contestação não foi diferente de tantos outros dias. Houve dezenas de milhares de pessoas nas ruas do país inteiro.

O centro da contestação parece ser Cali. O presidente colombiano anunciou o envio de um “destacamento máximo da assistência militar à polícia nacional na cidade de Cali e na província de Valle del Cauca" depois de quatro pessoas terem morrido na região. No principal incidente, um agente da unidade de investigação da Procuradoria disparou sobre a multidão, matou duas pessoas e acabou depois por ser também morto.

Duque anunciou também que mais 7.000 pessoas, incluindo membros da marinha, seriam destacados para levantar os inúmeros bloqueios de estradas no país.

As conversações entre o governo e Comité Nacional de Greve estão num impasse depois de ter sido anunciado um “pré-acordo” entre as partes que acabaria com as manifestações enquanto decorressem negociações. O Comité de Greve acusa o governo de protelar a assinatura do acordo. Segundo Francisco Maltes declarou à Reuters “só falta a assinatura do presidente para começarem as negociações”. O governo justifica-se com o facto de alguns líderes do protesto não terem condenado os bloqueios de estrada, dizendo que isso é inegociável. Este domingo haverá mais conversações sobre como iniciar as conversações.

Os movimentos sociais exigem agora a criação de um rendimento mínimo, mais oportunidades de trabalho para os jovens e fim da violência policial.

Termos relacionados Internacional
(...)