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Cientistas portuguesas desenvolvem alternativa terapêutica contra a covid-19

Mais de um ano de trabalho deu resultados promissores e está na fase de obtenção de patentes. Objetivo é tornar os efeitos da covid-19 semelhantes aos de uma constipação.
Laboratório
Foto Marco Verch/Flickr

Cecília Arraiano, Margarida Saramago e Rute Matos, cientistas do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, desenvolvem desde 2020 uma investigação para encontrar uma alternativa terapêutica para combater o SARS-CoV-2. E desse trabalho resultou a descoberta de três fármacos - dois dos quais aprovados para outras doenças pelo regulador norte-americano do medicamento, a FDA, e outro em processo de aprovação - que retiram força à atividade do vírus.

O trabalho começou logo após o início da pandemia. “Nós trabalhamos com proteínas que são as ribonucleases (proteínas que partem e alteram a molécula de ARN) e o meu primeiro pensamento foi ir ver se o vírus tinha estas proteínas, quantas eram e o que se sabia sobre elas”, afirmou Margarida Saramago à agência Lusa. Outras cientistas juntaram-se a este projeto. "Depois de todo o trabalho sobre a identificação das ribonucleases, tiveram de identificar a localização destas no ARN do vírus e sintetizá-las em laboratório, para poderem produzir as mesmas ribonucleases para serem testadas”, recorda a coordenadora Cecília Arraiano ao Diário de Notícias.

"Na internet descobri uma base de dados com vários compostos, já aprovados pela FDA, e sobre os quais havia a indicação de que interagiam com as tais proteínas ribonucleases”, refere Margarida. O passo seguinte foi encomendar os fármacos e tentar perceber qual a sua influência sobre a atividade das proteínas. Os ensaios no vírus vivo confirmaram que  "tinham um poder antiviral, o poder de inibir a multiplicação do vírus”. Testando diferentes doses e misturando os compostos selecionados, perceberam que o vírus começava a ficar controlado.

Agora, segue-se a fase de elaboração de um artigo científico sobre a descoberta e a obtenção da patente para a proteger, de forma a dar início a ensaios clínicos em humanos. Se tudo correr como previsto, e se a indústria farmacêutica "trabalhar à velocidade com que colocou cá fora uma vacina, eu diria que, se calhar, em menos de um ano poderemos ter estes fármacos a tratar a covid-19”, diz Cecília Arraiano ao Diário de Notícias.

O impacto desta descoberta pode ser decisivo para conter a mortalidade associada ao vírus. "Costumo dizer que conseguimos transformar um lobo num cão. Imagine o que é termos medicamentos baratos que irão tratar diretamente a infeção pelo SARS-CoV-2, permitindo que as pessoas fiquem em casa", diz a coordenadora deste projeto, referindo que a doença "passa a ser como uma constipação. Se uma pessoa não tiver outras complicações, não vai para o hospital com uma constipação", conclui.

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