Cientistas dizem que o seu emprego não é valorizado em Portugal

18 de August 2021 - 19:33

Associação de Bioquímicos promoveu um inquérito em que 94,6% dos inquiridos defendem que o emprego científico não é valorizado em Portugal e 70% afirmam encontrar-se numa situação muito precária em termos laborais.

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Foto de Paulete Matos.

A Associação Nacional de Bioquímicos (ANBIOQ) divulgou na terça-feira os resultados do inquérito online que recolheu as respostas de 300 investigadores no mês de maio. Esta consulta revela que 94,6% dos cientistas e investigadores considera que o emprego científico não é valorizado em Portugal.

De acordo com os resultados avançados, 70% dos investigadores consideram encontrar-se numa situação muito precária. Quando falamos de estudantes de doutoramento, a percentagem ascende a 73,8%. Acresce que, “na minoria dos investigadores com contrato de trabalho (38,8%), o sentimento de precariedade acentuada continua muito elevado (62,9%)”.

No que respeita à qualidade de vida, 53,5% dos inquiridos considera estar “numa situação significativamente mais desfavorável do que a maior parte dos empregos financiados por fundos públicos”.

“Quando é considerado a duração e estabilidade da situação de trabalho, este número sobe para 70%. Contrariamente ao esperado, os inquiridos com contrato de trabalho apresentam valores ainda elevados (44,8% e 63,8%), revelando que o contrato de trabalho é um passo em frente, mas não único para dar condições de vida e trabalho aos investigadores portugueses”, lê-se no comunicado divulgado pela ANBIOQ.

A Associação alerta ainda que “estes fatores tornam-se ainda mais preocupantes nos Bolseiros de Doutoramento (58,9% e 74,8%, respetivamente), o que mostra que, apesar de a percentagem de aprovação de candidaturas ter vindo a subir (tendo sido 49% no concurso divulgado pela FCT referente à atribuição de bolsas de Doutoramento no ano de 2021), o aumento do número de bolsas não é suficiente para conferir condições dignas aos investigadores em doutoramento”.

Os inquiridos denunciam o “desinteresse e falta de apoio” do país. Neste contexto, “84,7% dos inquiridos não se vê ou não sabe se realizaria investigação em Portugal a longo prazo”. “Da minoria que consegue perspetivar um futuro em Portugal (somente 14,4%), uma grande percentagem (69,8%) tem contrato de trabalho”, avança a ANBIOQ. De acordo com os resultados do inquérito, aspetos formais dos concursos de financiamento também são um dos fatores de desmotivação. A transparência e a gestão do financiamento são alvo de críticas.

Cerca de 90% dos inquiridos têm grau de mestre ou doutoramento, mais de metade é remunerado através de uma bolsa e apenas pouco mais de um terço tem contrato de trabalho. Mais de 85% é financiado por entidades nacionais públicas e o financiamento internacional representa menos de 10% do total.