You are here
Chomsky: EUA são dirigidos essencialmente pelo setor empresarial

“É um país dirigido essencialmente pelo setor empresarial, que exerce uma influência esmagadora sobre o governo”, avançou Noam Chomsky, referindo que os EUA são de certa forma simbolizados pelo homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, que aumentou a sua fortuna em 11,37 mil milhões de euros num único dia.
“Eles estão desgovernados, usando Trump e o governo ou usando a capa da pandemia para aumentar a sua dedicação a enriquecer o setor muito rico e empresarial”, assinalou, afirmando que o seu objetivo é manter o cenário dos últimos anos: uma enorme concentração de riqueza, concentração de poder político, uma população em geral estagnada, em declínio, até o ponto em que há um aumento da mortalidade nos últimos anos entre pessoas em idade ativa.
“Basicamente, o país tem sido praticamente um estado de partido único, o partido dos negócios”, frisou.
Chomsky acrescentou que este é um momento histórico extraordinário, diferente de qualquer outro, distinto dos regimes fascistas do início do século XX: "Os sistemas fascistas eram baseados no princípio de que o estado poderoso, sob a liderança do partido e líder no poder, deveria basicamente controlar tudo... inclusive a comunidade empresarial". Nesse sentido, argumentou, Trump não é fascista. "Somos quase o oposto. É a comunidade empresarial que controla o governo. E qualquer violação ao seu poder levaria a um tipo de confronto quase inimaginável", disse.
Trump fará tudo ao seu alcance para não perder eleições
O ativista político apontou que “o presidente Trump está desesperado”. “Ele tem que encobrir o facto de ser pessoalmente responsável por matar dezenas de milhares de americanos”, sendo que as suas hipóteses de vitória [eleitoral] dependem de fazer algo dramático”, sublinhou Chomsky.
“E é por isso que ele está a debater-se loucamente para encontrar alguém para culpar. É por isso que está a usar a oportunidade atual de enviar forças quase militares, mais ou menos paramilitares, para iniciar confrontos violentos com autarcas e governadores democratas. E não há precedentes para o envio de forças militarizadas para controlar uma cidade em oposição - quando há oposição total por parte do autarca, do governador, dos senadores, obviamente da população. Trata-se de tratar o país como território ocupado, com o objetivo totalmente claro de tentar estabelecer confrontos que, de alguma forma, o salvarão da derrota eleitoral”, continuou.
De acordo com Noam Chomsky, Trump, que tem um partido político de “bajuladores cobardes” atrás de si e “uma base popular de milícias supremacistas brancas, fortemente armadas e raivosas”, “é psicologicamente incapaz de perder”. Acresce que, se sair derrotado das eleições, pode enfrentar sérios problemas legais: “Agora ele tem imunidade, mas há um pântano inteiro ao seu redor”.
O ativista político lembrou ainda que Trump está a expandir o seu expurgo do executivo, que quase foi limpo de quaisquer controlos ou vozes dissidentes, estendendo-o também às forças armadas.
“Mais quatro anos de Trump podem levar-nos a pontos irreversíveis”
“Mais quatro anos das políticas climáticas e nucleares de Trump podem simplesmente condenar a espécie humana, literalmente. Não temos muito tempo para lidar com a crise ambiental. Isso é muito sério”, alertou Chomsky. “Mais quatro anos de Trump podem levar-nos a pontos irreversíveis. No mínimo, dificultará muito o enfrentamento desta crise crescente”, reforçou.
Segundo o filósofo e linguista norte-americanos, ao mesmo tempo, Trump dedica-se a destruir o regime de controlo de armas, o que abre “mais as portas para outros países reagirem da mesma maneira. A indústria de armas está obviamente eufórica”.
Chomsky fez referência a outro país que está a tentar imitar os Estados Unidos: “O Brasil, com outro ditador ridículo, Jair Bolsonaro, que está a tentar ser um clone de Trump”.
Aceda aqui às três partes desta entrevista:
Part 1: Noam Chomsky on Trump’s Troop Surge to Democratic Cities & Whether He’ll Leave Office if He Loses
Add new comment