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China: Jornalista Jia Jia foi “desaparecido”

Jia Jia, um jornalista independente de 35 anos, parece ter sido detido quando tentava embarcar num voo para Hong Kong saído de Pequim, no dia 15 de março. Do China Worker Info.
Jia Jia, jornalista desaparecido a 15 de março.

Os seus amigos acreditam que o seu desaparecimento pode estar ligado a uma petição que circulou nas redes sociais a pedir a renúncia de Xi Jinping. A carta assinada por um “leal membro do Partido Comunista” foi publicada pouco antes da abertura de duas importantes reuniões, o Congresso Nacional do Povo e a Conferência Política Consultiva do Povo Chinês. Esses encontros sempre marcam um momento sensível da ditadura chinesa.

Assediados por problemas económicos sem precedentes e disposto a executar um plano de erradicação de milhões de empregos, o regime tem intensificado a pressão sobre os dissidentes reais ou imaginários. Uma nova diretiva de Xi Jinping para os meios de comunicação controlados pelo estado de “amar o partido e proteger o partido” criou ondas de descontentamento até no meio da elite do PCC. São sinais da crescente tensão que cresce no aparelho do partido-estado no momento em que a economia sai dos carris. O regime parece muito menos competente nas matérias económicas do que na crescente repressão.

Elite protesta contra a censura

Ren Zhiqiang, magnata do setor imobiliário, teve as suas contas de microblogs – com 37 milhões de seguidores – fechadas após ter criticado os últimos golpes de Xi contra a imprensa. Ren, que é membro do partido e ex-delegado ao Comité Central de Pequim, foi acusado de espalhar “informação ilegal” e advogar a derrubada do Partido Comunista, por sugerir um mínimo de liberdade de imprensa.

A revista de negócios Caixin, porta-voz da ala mais neoliberal do PC, também se meteu em problemas com a máquina de censura estatal ao publicar uma entrevista com o delegado do Comité Central Jiang Hong, da província de Guangdong, que reclamou que as discussões e debates estão sendo estranguladas mesmo entre os veneráveis do regime.  “Todos estão um pouco atordoados e não querem falar muito”, disse Jiang à revista Caixin. Mas o artigo foi considerado “ilegal” e removido pelos censores, provocando um raro protesto dos editores da Caixin.

“A luta no topo intensifica-se com a contagem regressiva do próximo 19º Congresso do PCC, no qual Xi tem como objetivo cimentar o seu controlo, promovendo os seus apoiantes para os cargos de liderança”, esclareceu  o ativista Vincent Kolo. “Estamos a ver claros sinais de fissura na elite dirigente, e elas podem aumentar significativamente no próximo período, não importando o quanto Xi  tente apertar o parafuso”, concluiu.

A campanha anti-corrupção de Xi, a mais ampla em décadas, ajudou-o a consolidar o seu poder. Mas as dificuldades económicas indubitavelmente encorajaram facções de interesses rivais a oferecer grande resistência. A luta entre governos locais e o centro também podem agudizar-se com o regime a concclamar ao encerramento massivo das fábricas “zumbi” envolvendo cerca de 6 milhões de despedimentos.

Cadeia de desaparecimentos

O desaparecimento de Jia Jia ocorreu depois de ele, aparentemente, tentar alertar um ex-colega que trabalha como editor na estatal Wujie News, após esta ter republicado a petição conclamando à renúncia do presidente Xi. A petição anónima criticou a condução dos assuntos económicos por Xi e afirmou que um número crescente de facções é contrária ao aumento de pressão sobre a liberdade de expressão, burocracia governamental e dissidentes do PCC.

Yan Xin, advogado de Jia, disse à Reuters que o seu cliente “afirmou não ter conexão com a carta”. As primeiras reportagens dizem que o website da Wujie News foi hackeado, apesar de isso ter sido negado posteriormente.

Segundo os seus amigos, a esposa de Jia recebeu um telefonema dele na noite de terça-feira, 15 de março, do aeroporto de Pequim, dizendo que estava prestes a embarcar no seu voo. Há vários dias não se têm mais notícias dele. É possível que, apesar de Jia parecer não ter envolvimento com a petição, as autoridades terão tentado extrair informações sobre as pessoas envolvidas. Nesse caso, é possível que ocorram novas prisões.

Este caso é o último na arrepiante campanha de terror das forças de segurança chinesas contra os dissidentes. Nos últimos seis meses, os ataques de Xi estenderam-se ao exterior, fora da jurisdição do estado chinês, incluindo estrangeiros. No caso mais famoso, cinco editores de livros de Hong Kong, especializados em livros críticos que ridicularizam as lideranças chinesas, desapareceram de Hong Kong para reaparecerem sob custódia na China. Dois dos cinco possuem nacionalidade estrangeira. Desde então os livreiros apareceram a fazer “confissões na televisão”, que é uma outra privilegiada ferramenta política das autoridades chinesas para forçar as suas vítimas a incriminarem-se.

A polícia chinesa é obrigada por lei a notificar a família dos detidos em 24 horas exceto, nos casos que atentem contra a segurança nacional. Isso não ocorreu em nenhum dos casos mencionados.

O desaparecimento de Jia Jia é outro sinistro capítulo do governo de Xi Jinping. Essas medidas antidemocráticas de Xi são para implementar a política antioperária do seu governo. Com o objetivo de fazer os trabalhadores pagarem com desemprego e redução de salários pela crise criada pelo PCC e a sua política pro-capitalista. Ao mesmo tempo, o regime de Xi está a atuar mais na sua insegurança do que na sua força, um caminho que levará rumo a uma massiva convulsão social e política.


Tradução de Tomi Mori.

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